Durante toda a nossa vida profissional, desde quando ainda estudantes, sempre nos deparamos com escolhas.
Escolha da especialidade, escolha da residência, escolha de fazer atendimento publico ou privado ou ambos, …
Escolhida a especialidade, e dependendo dela, ainda temos que escolher seguir como clínicos ou cirurgiões, ou as duas possibilidades dentro numa mesma especialidade.
Escolhas, escolhas, escolhas….
Mesmo no nosso dia-a-dia, a cada paciente que atendemos, continuamos a ter que fazer escolhas… Fazer o tratamento A ou B? Escolher a medicação C ou D? Qual a melhor dose para este determinado paciente? Ou ainda, não fazer medicação? Dar apenas orientações de dieta e comportamento? Quem nunca disse ao seu paciente: “Você precisa parar de fumar…” ou “Você precisa fazer atividade física” ou ainda “Você precisa diminuir a ingesta de gorduras”?, …
Acredito que, também, seja igual em qualquer outra profissão. Escolhas, escolhas, …
Entretanto, nós médicos, temos o juramento que fizemos ao nos formar “Eu prometo solenemente consagrar minha vida ao serviço da humanidade; a saúde e o bem-estar de meu paciente serão as minhas primeiras preocupações”
E ainda temos o nosso código de ética médica. Que nos orienta sobre nossas ações, o que podemos/devemos fazer ou não. Dentre elas, poderia destacar o Capítulo III que diz: É vedado ao médico: Art. 1º – Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência. Parágrafo único. A responsabilidade médica é sempre pessoal e não pode ser presumida. E o Art. 2º – Delegar a outros profissionais atos ou atribuições exclusivos da profissão médica. Assim como no Capítulo II, do mesmo código de ética, sobre os DIREITOS DOS MÉDICOS, destacaria: É direito do médico: IX – Recusar-se a realizar atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência.
Ou seja, voltando às escolhas, entramos na capacidade que todos nós, MÉDICOS, temos em escolher o melhor tratamento para cada um de nossos pacientes.
E voltamos às nossas escolhas…
Nós médicos que nos mantemos informados e atualizados, dentro de nossa perfeita capacidade de escolher a medicação A ou B ou ambas. No início ou meio da história clínica de nosso paciente, devemos sempre acreditar que, sendo uma escolha MÉDICA, não devemos aceitar que a prescrição de determinado tipo de tratamentos nos seja uma imposição. Assim como versa o artigo II, no Capítulo III, do código de ética, é vedado ao médico: “Delegar a outros profissionais atos ou atribuições exclusivos da profissão médica”.
E aí entramos nos princípios da Bioética, onde, seguindo o Princípio da Beneficência, temos a obrigação ética de maximizar o benefício e minimizar o prejuízo, com a maior convicção e informação técnica possível, assegurando que nosso ato médico seja benéfico ao nosso paciente. Assim como também pelo Princípio da Não-maleficência onde o ato médico sempre deve causar o menor prejuízo ou agravos à saúde do paciente (primum non nocere = primeiro não prejudicar), cuja finalidade é de reduzir os efeitos adversos ou indesejáveis das ações diagnósticas e terapêuticas ao nosso paciente.
Acredito ainda que, dentro dos princípios da Beneficência e Não-maleficência, enquanto não temos uma única droga definida como eficaz, qualquer tratamento deve ser pesquisado e tentado. Mas não me faz nenhum sentido que isto seja uma imposição. Ou ainda, estimulado a ser usado sempre e em todos, em massa, como única opção de cura e salvação. Lembrando que escolhas devem ser muito bem analisadas, visando sempre o máximo benefício ao nosso paciente.
Portanto, acredito que a escolha de determinado tratamento deve ser MÉDICA, de quem está na frente, prestando atendimento ao paciente, no dia-a-dia, sabendo quais dificuldades, quais benefícios ou riscos cada um dos pacientes poderá apresentar. Não devemos aceitar que tratamentos sejam feitos por determinação de pessoa X, Y ou Z, sem que haja a devida comprovação científica de beneficência e não-maleficência e acima de tudo respeitando o código de ética médica, que nos orienta de que este ato é uma ESCOLHA médica.
Eu realmente não consigo entender, com tantas outras prioridades neste momento tão difícil para todos e tantos que, alguém, quer seja médico ou não, defenda um único determinado tipo de tratamento para esta doença que todos nós sabemos que ainda não existe nenhum consenso de como tratá-la
Júlio Lóssio – Médico Oftalmologista, ex-prefeito de Petrolina-PE