Era o entardecer do dia 31 de março de 1978. O sol corria para se esconder para os lados do poente, enquanto lambia a terra e pintava o Sertão com fogo. Eu chegava em Afogados da Ingazeira para assumir uma das Chefias da agência do Banco do Brasil. Nascido no Oeste de Minas, pertinho do Goiás, nunca havia visitado o Nordeste, que eu conhecia só dos livros de geografia e da literatura dos diversos mestres Nordestinos. Antes da nomeação eu nunca ouvira falar sobre Afogados da Ingazeira. Fiz a vigem e cheguei seguindo o Guia 4 Rodas e seu mapa, os únicos “Google” ou “gps” então disponíveis, afora o “perguntar”. Foram 2.213 kms na solidão de meu Chevette 78. Estacionei diante do prédio da agência do Banco exatamente às 18.05 da tarde fazendo um terrível barulho sem o escapamento, que havia perdido no último trecho, entre Serra Talhada e Afogados. O barulho do motor chamou a atenção de duas pessoas que conversavam na calçada. Só de olhar seu “jeitão, eu percebi que eram meus colegas de Banco.Me aproximei e me apresentei. Fui recebido em Afogados por dois colegas, Viana e Miguel. Logo em seguida saíram do prédio o Ademar (com o braço engessado e na tipoia), Fernando Lagartixa, Bode, Frazão, Ferrugem, Edvaldo e outros. Dali seguimos direto para a Gruta da Praça, onde ocorreu o meu batismo de fogo. Enquanto eles tomavam cerveja e conversávamos, acabei logo com uma garrafa de Pitu. Não sei por que, mas beber aquela cana doce, em comparação com as cachaças mineiras, me deu, sem eu merecer, a fama de “bom de cana”. Era o começo.
Com o passar dos dias, fui aprendendo a apreciar Afogados da Ingazeira e o Sertão do Pajeú. Apaixonei-me pela Terra porque, primeiro, fui cativado pelo seu povo, pelo carisma do Sertanejo, seu jeito simples e autêntico de ser. E dentro desse “povo”, incluo os colegas de Banco com os quais tive a honra de trabalhar pelo tempo em que ali permaneci.
Desde então, tenho vindo muito a Afogados da Ingazeira. Devido ao amor que sinto por essa Terra e aos laços de amizade que aqui consolidei, sou suspeito de falar, entretanto, posso afirmar que Afogados se transformou na Terra onde minha alma lançou sua âncora. Aqui sinto que vivo. Descobri que sou mesmo é “bom de Afogados”!!!
Voltar a Afogados e participar do I ENCONTRO DOS EX FUNCIONÁRIOS E APOSENTADOS DO BANCO DO BRASIL, ocorrido no último dia 1º de fevereiro na AABB, foi de uma emoção indescritível. Tivemos a oportunidade única de rever amigos e colegas que não víamos há mais de trinta, quarenta anos. Passamos uma tarde inteira relembrando passagens, momentos, vivências. Ficamos conhecendo outras tantas pessoas, também colegas de Banco, que trabalharam em épocas diferentes de nossa época. E desse encontro podemos reafirmar a constatação de que Afogados da Ingazeira é uma Terra Mágica. Sua energia perpassa, ainda, depois de tantos anos, pelas veias e memória de cada um desses colegas e amigos, mesmo aqueles que, sem pertencer aos quadros do Banco, de alguma forma participaram, um dia, da Família Banco do Brasil: pessoal da segurança, da limpeza, contratados, prestadores de serviços etc. Essa energia nos uniu de novo e nos aproximou para a retomada da convivência, nos dando a certeza de que, no primeiro sábado de fevereiro de 2021, estaremos novamente em Afogados da Ingazeira, essa cidade amada por todos, principalmente porque aqui encontramos o carinho e a acolhida de seu estupendo povo.
Valeu Afogados da Ingazeira! Muito obrigado por mais uma acolhida! Valeu participantes do Encontro, obrigado a todos! Um obrigado especial ao empenho, garra, otimismo e atitude do nosso colega Presidente da AABB, Jurandir Pires.
Ano que vem tem mais!
Hélio Noronha