Enquanto uns veem crise, outros veem oportunidades. A máxima tem sido aplicada inclusive diante da necessidade da adaptação de novos modelos socioeconômicos com a crise climática. A rede nacional de pesquisadores no semiárido do Brasil (Ecolume), liderada pelo Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), desenvolveu o 1º Sistema Agrovoltaíco no país, com alta capacidade produtiva o ano inteiro, independente da quadra chuvosa. O protótipo, instalado em uma pequena área de 24m² em Ibimirim/PE, já produz R$ 10 mil anual em alimentos e energia elétrica a partir do sol – valor três vezes maior que a tradicional produção de milho e feijão no local
O assunto chamou atenção da Universidade de Brasília. A coordenadora da Ecolume, a climatologista Francis Lacerda, foi convidada pelo docente Fabrício Neves para abordar sobre a tecnologia durante um colóquio no Instituto de Ciências Sociais da UNB nesta segunda-feira (11), às 16h30. “A crise climática precisa ser encarada também como uma oportunidade desde que levada em conta a sua grave ameaça para a vida que demanda a urgência na mudança de paradigma do modelo socioeconômico”, realça a estudiosa, que coordena o Laboratório de Mudanças do Clima do IPA.
Para Fábio Larotonda, diretor do Programa de Desenvolvimento Científico do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC), a rede Ecolume vem implantando soluções inovadores frente os desafios globais, atento ao clima e a partir da rica biodiversidade brasileira e a sua correta exploração bioeconômica através do sistema agrovoltaico na Caatinga. O dirigente estará inclusive reunido hoje com Francis e outros cientistas de vários grupos de pesquisa do Brasil voltados a estudos sobre segurança hídrica, alimentar e energética. O encontro, que segue até quarta-feira será no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O órgão é um dos financiadores da rede Ecolume.
“O trabalho da Ecolume tem dado muitos resultados positivos com o uso de placas fotovoltaicas, hidroponia (produção de alimentos, inclusive aves e peixes) de forma barata e que pode ser replicada por toda a Caatinga e em outros biomas”, destacou Ana Cláudia, analista do CNPq e gestora do programa de financiamento dos projetos pelo Brasil na linha da Ecolume.
Francis conta que o sistema produz o ano todo energia solar, alimento vegetal, mudas de plantas nativas para o reflorestamento e proteína animal através de um sistema fotovoltaico e hídrico fechado e orgânico. O sistema agrovoltaico, criado pelo Ecolume, engloba três subsistemas: as placas fotovoltaicas para a geração de energia elétrica e a captação de água da chuva; a produção orgânica de alimentação vegetal e animal por tubos e tranques (aquaponia) através de irrigação circular e fechada; e o reuso e reutilização da água usada em outras áreas da propriedade.