A Cepe Editora lançará no próximo sábado (31), no Cinema do Museu da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), em Casa Forte, a biografia de um dos mais notáveis jornalistas brasileiros, referência para gerações de profissionais e estudantes, e que também deu considerável colaboração à produção cinematográfica pernambucana, sobretudo, ao movimento do Super-8 do Recife, nos anos de 1970. O livro Geneton, Viver de ver o verde mar, escrito pelos jornalistas Ana Farache e Paulo Cunha, é resultado de um intenso trabalho de pesquisa realizado ao longo de dois anos e que contou com a colaboração da família e de dezenas de amigos que o recifense Geneton Moraes Neto (1956-2016) arrebatou ao longo de sua vida. O lançamento acontecerá às 18h, mas às 16h será exibido Cordilheiras no Mar: A Fúria do Fogo Bárbaro (2015), último filme de Geneton, que reúne o pensamento político de Glauber Rocha. A entrada é franca.
Em 246 páginas, onde se distribuem dez capítulos – além de cronologia, filmografia e livros escritos -, Geneton , Viver de ver o verde mar revela a vida e a trajetória de sucesso do escritor, jornalista e cineasta recifense. Um mosaico composto por mais de 60 fotos, memórias do arquivo pessoal cedido pela viúva, Elizabeth Garson Passi, e pelos filhos Clara, Joana e Daniel, documentos garimpados e por quase 70 depoimentos de amigos e colegas de trabalho. Fotos e textos inéditos – como os produzidos por Geneton para o seu diário pessoal entre os anos de 1977 e 1985 – estão entre as boas surpresas da obra.
No texto do prefácio que assina, o jornalista e cineasta Amin Stepple, amigo de Geneton desde os tempos do curso de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco, e com quem realizou o primeiro Super-8, destaca o que para ele é óbvio. “Geneton é um dos maiores jornalistas do Brasil. Íntegro, ético, incorruptível, workaholic e obcecado. A paixão juvenil pelo jornalismo se manteve até o último momento, e irá sobreviver a ele”, pontua, sem deixar de revelar o não-óbvio: “Agora mesmo, em qualquer lugar do planeta, tem um cara de 18 anos disposto, por meio do jornalismo, a tornar insuportável a vida dos facínoras, tiranos e poderosos desta colônia penal. E, ainda, decidido a lutar por uma humanidade mais fraterna, solidária e afetuosa. Geneton acreditava nisso. Esse é o seu legado. Essa é a sua biografia”.
Paixão e inquietude alimentaram boa parte dos pródigos 60 anos de vida de Geneton Moraes Neto – que começou a trabalhar aos 14 anos como colaborador do suplemento infantil do Diario de Pernambuco, passando a repórter profissional dois anos depois e acumulando entrevistas com nomes estelares, como Caetano Veloso (que o considerava “o meu jornalista”), Gal Costa, Jards Macalé, Carlos Imperial, Nelson Ferreira, Quinteto Violado, entre muitos. Aos 19 anos, já integrava a equipe da sucursal do jornal O Estado de São Paulo e de lá partiu para ocupar redações de jornais e televisões nacionais e de fora do país.
Geneton admitia fazer parte do Partido dos Perguntadores do Brasil e esperava contribuir com o jornalismo que praticava na produção de memória. “Vivo dizendo que produzir memória é uma das (poucas) coisas realmente úteis que o jornalismo pode fazer”, lembrava. Esse cuidado o lançou a uma posição singular entre os jornalistas, sendo responsável por grandes encontros como os que teve com Theodore van Kirk (o navegador do avião que jogou a bomba atômica sobre Hiroshima), Eva Schloss (sobrevivente de Auschwitz), Yoko Ono, Pete Best (primeiro baterista dos Beatles), Desmond Tutu, Eugene Cernan (o homem que bateu o recorde de permanência na Lua), Woody Allen,José Saramago, Jorge Amado, Millôr Fernandes, entre muitos.
Viver de ver o verde mar (verso de um de seus muitos poemas) fala ainda da família, de sua relação com a música, sua produção cinematográfica, do tempo em que morou na Europa – para estudar cinema e quando trabalhou como camareiro de hotel e motorista de família rica -, de sua vontade de mudar (‘tempos medíocres, hora de mudar. Encarar o cinema de uma vez, projeto tantas vezes adiado”), de “construir alguma ponte possível entre o Leblon e a praia do Janga”, entre muitas memórias.
Geneton morreu no dia 22 de agosto de 2016, vítima de um aneurisma na aorta. As cinzas do seu corpo foram jogadas no mar da praia de Pau Amarelo, no dia 24 de setembro daquele mesmo mesmo ano.
Um gênio, raridade, riqueza nata, beleza, grandeza, orgulho para UNICAP, Recife e Brasil. Parabéns a vocês – Ana e Paulo por escreverem “Jeneton viver de ver o mar”. Gratidão a Adriana Engracia, por ter me avisado tão antes (SP). Saudades, fica com Deus!