Por G1 PE e TV Globo
Uma candidata a deputada estadual pelo PSL em Pernambuco comprou 5 milhões de santinhos e mais de 1 milhão de adesivos nas 48 horas que antecederam as eleições de 2018. Em todo o Brasil, ao menos 13 estados têm investigações sobre possíveis “candidatos-laranja”.
A gráfica responsável pelas supostas impressões do material de campanha de Mariana Nunes (foto acima) é a mesma utilizada por Lourdes Paixão, que recebeu do PSL R$ 400 mil dias antes do pleito, obteve 274 votos e é investigada por supostamente atuar como “laranja”.
Lourdes depôs à Polícia Federal no Recife, na quarta-feira (20), e seu advogado não soube informar o endereço da gráfica, onde ela gastou R$ 380 mil.
O caso de Mariana Nunes foi publicado pelo jornal O Globo, nesta sexta-feira (22). Ela obteve 1.741 votos.
A denúncia sobre suspeita do uso de “laranjas” foi o estopim de uma crise no governo federal, que resultou da demissão de Gustavo Bebianno do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência.
Bebianno era presidente nacional do PSL, durante as eleições de 2018, e foi o responsável formal pela distribuição de verbas públicas aos candidatos do partido nos estados.
As notas fiscais entregues à Justiça Eleitoral por Mariana Nunes mostram o pagamento de R$ 113.900 à gráfica Itapissu, sendo uma do dia 5 de outubro, no valor de R$ 69 mil, e outra no dia 6 de outubro, de R$ 44,9 mil.
O endereço da gráfica é alvo de divergências. No local indicado na prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no bairro do Arruda, Zona Norte do Recife, o G1 encontrou uma oficina onde a empresa deveria funcionar.
Segundo os funcionários da oficina de funilaria, o estabelecimento funciona no galpão desde, ao menos, março de 2018, sete meses antes da eleição.
Em outro endereço, no bairro dos Aflitos, também na Zona Norte, o G1 constatou que funcionam um café, uma papelaria e salas que são alugadas para cursos.
Informações publicadas no site do TSE mostram que no dia 5 de outubro de 2018, a campanha de Mariana Nunes recebeu dois repasses da direção estadual do PSL: um de R$ 50 mil, do Fundo Partidário, e outro de R$ 58 mil, do Fundo Especial.
Nos dias 2 de outubro e 28 de setembro, os repasses da direção para a então candidata foram de R$ 10 mil, cada, totalizando R$ 20 mil.
Nesta sexta-feira (22), Marina Nunes participou de uma reunião de mulheres na sede do PSL, no Recife. A equipe da TV Globo tentou falar com ela, mas uma funcionária do partido informou que ela não gravaria entrevista.
Na mesma gráfica declarada por Mariana ao TSE, a então candidata Maria de Lourdes Paixão gastou, na semana da eleição, R$ 380 mil em material de campanha. Também nesta sexta, a TV Globo teve acesso a um novo endereço da empresa, no bairro de Afogados, na Zona Oeste do Recife.
Advogado
O advogado Pedro Avelino, que defende a gráfica, disse que a mudança de endereço aconteceu há cerca de um ano e meio, mas que os proprietários não informaram à Junta Comercial. No local, existem quatro máquinas de impressão.
Segundo o advogado, a gráfica tem capacidade de produzir mais de 1,5 milhão de santinhos por hora. Ele afirmou que as duas candidatas fizeram o material de campanha no local.
“Todo o dinheiro recebido teve notas fiscais emitidas, o material foi rodado e enviado com protocolo de entrega tanto aos endereços dos candidatos como também ao próprio comitê dos partidos que têm material de entrega recebido por funcionários respectivos”, afirma o advogado.
Avelino afirma, ainda, que não sabe o porquê dos pagamentos terem sido realizados num período tão próximo das eleições.
“Não sei explicar o porquê elas [Mariana Nunes e Lourdes Paixão] pagaram em duas ou três parcelas perto das eleições, mas não é incomum outros candidatos chegarem à reta final da eleição e fazerem grandes pedidos de santinhos, praguinhas e adesivos”, declara.