A Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) lança nesta quarta-feira (12) o primeiro livro póstumo do escritor Marcus Accioly, considerado uma das mais importantes vozes da poesia regional contemporânea, morto em outubro do ano passado. Don Juan-Don Giovanni, peça em dez jornadas, foi o último trabalho de Accioly, que deixou ainda outros títulos inéditos. O lançamento será na Academia Pernambucana de Letras, a partir das 19h. Na ocasião, os poetas Alexei Bueno, Carlos Nejar e o editor da Cepe, Wellington de Melo, falarão sobre a obra e a trajetória do escritor pernambucano.
Ao longo de uma década, Marcus Accioly travou com esse personagem enigmático da literatura universal uma intensa relação para a construção do seu Don Juan. “Ele sempre quis escrever sobre Don Juan, como tantos já fizeram, e gostou do resultado quando terminou”, revela Glória Accioly, viúva do poeta. Autor do prefácio e velho amigo de Marcus, o poeta Nejar lança olhar sensível à última obra do escritor pernambucano que, ao contrário do Don Juan de Lord Byron, “escreveu-o à exaustão, para não deixá-lo inacabado”.
Nas dez jornadas que dividem o texto para teatro, Don Juan-Don Giovanni é ameaçado por um fantasma do passado, tem medo da Morte, ao mesmo tempo em que se sente atraído por ela pelo fato de ser feminina, e mesmo sem morrer, vai ao inferno e lá se torna amigo do Diabo. Entre comédia e tragédia, plano real e sobrenatural, o galã reflete sobre a própria vida, passado e presente, amor e solidão.
Vívido da primeira à última cena, Accioly orquestrou com maestria os diálogos que constroem a narrativa e seus personagens, todos organizados em versos, como tradicionalmente escrevia. “A poesia era intrínseca a Marcus, colocava em versos até os seus artigos para o Jornal do Commercio. Ele não conseguia não ser poeta”, ressalta Glória Accioly.
Poeta e professor, Marcus Accioly nasceu no município de Aliança em 21 de janeiro de 1943. Fez parte da chamada Geração 65 de Pernambuco e do Movimento Armorial junto com Ariano Suassuna. Publicou 14 livros, deixando outros 30 ainda inéditos. Sua poesia foi traduzida para o espanhol, francês, alemão e musicada por grandes nomes, como Capiba, Cussy de Almeida e Arnaut Matoso. Teve a obra reconhecida através de grandes prêmios literários, entre eles o Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras. Ocupou a cadeira de número 19 da Academia Pernambucana de Letras e faleceu no dia 21 de outubro de 2017.