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Espaço do Internauta

Pássaro Carente

Caminhava à minha frente com passos seguros de quem vai em busca de um sonho, sonho que é o resultado final da vida. E que vida tão expressiva, essa dela!

Dobrou na esquina adiante e desapareceu.

Procurei-a em outras ruas, nas praças, nos jardins, nas repartições públicas, nas estações do metrô e não a encontrei. Convidei outros amigos para me ajudarem e, juntos, vasculhamos a cidade e não a achamos: na rodoviária, nos bares, nas lojas, não ficou nada sem ser visitado.

Esquecemos de procurá-la nos palcos da vida, onde se reúnem multidões para ver, ouvir e aplaudir os grandes artistas. Era ali que ela estava: violão nos braços, um sorriso nos lábios e a voz bela, doce, macia, agradável, única, a encantar a humanidade e tornar mais arrebatador o universo.

Era sua última apresentação, ninguém sabia disso. Nem ela. Nem a outra. Nem eu e outros milhares de amigos seus. Ninguém!

Só Deus.

Depois de cantar ela acenou e foi saindo devagar, sem pressa alguma e com lágrimas nos olhos, como quem presumia o que estava para acontecer. Dizem que caminhava normalmente, outros afirmam que era tão grande seu encanto que ela levitava e, de repetente, ficou etérea.

Restou o eco de sua voz ressoando nos ouvidos dos seus inúmeros fãs; voz inconfundível, que arrebatou multidões e enterneceu o coração de quem conhece as lições de amor e nostalgia.

Depois, como não poderia deixar de ser, ela se tornou saudade, das grandes, que nasce no fundo do coração e dói no recôncavo mais íntimo da alma, como se um punhal não cessasse de provocar sangramento.

Que suplício! E pensar que seu nome é serenidade: Maria da Paz.

Dobrou na esquina adiante e desapareceu. Eu vi, todos nós vimos e choramos muito por causa disso, sem poder fazer nada.

E mesmo sabendo que seu palco, hoje, é azul e branco, que outros são os fãs noveis a aplaudirem-na com entusiasmo e que ela vive brincando de ser feliz, mesmo assim nós sentimos muita saudade dela. Muita! Pedimos para ela voltar, mas ela não atende.

Não é mais possível.
Oh, Pássaro Carente!

Por: Milton Oliveira/Agosto/2018.


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