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CIDADE DE PERNAMBUCO ABRIGA ESQUELETOS DA TRANSPOSIÇÃO

Eduardo Knapp/Folhapress

Localizada no coração do semiárido nordestino, a pernambucana Salgueiro foi há até pouco tempo um oásis no sertão, ilha de prosperidade na região mais pobre do país.

Atraídos por duas grandes obras de infraestrutura e milhares de empregos, a transposição do rio São Francisco e a ferrovia Transnordestina, trabalhadores de todo o Nordeste chegaram a Salgueiro.

Hoje ambas estão paradas, com a maior parte dos canteiros abandonada e trechos já prontos se deteriorando sem proteção contra sol e chuva.

A cidade de 60 mil habitantes integra o braço inicial do eixo norte da transposição, que era de responsabilidade da empreiteira Mendes Júnior, considerada inidônea por irregularidades investigadas na Lava Jato e que abandonou a obra. O Ministério da Integração aguarda o desfecho de uma nova licitação para retomar as obras no trecho.

A posição estratégica –equidistante das principais capitais nordestinas e no cruzamento das BRs 232 e 116– foi determinante para que Salgueiro também abrigasse o principal canteiro da Transnordestina. Iniciada em 2006, na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, a ferrovia tem projetados 1.753 km, dos quais só 600 km estão concluídos.

Concebida para interligar os portos de Pecém (CE) e Suape (PE) a regiões produtoras de grãos e minério no Piauí, a Transnordestina tem as obras paralisadas desde pelo menos o ano passado –há trechos parados há anos.

Embora esteja a cargo de uma empresa privada, a TLSA (Transnordestina Logística), subsidiária da CSN (Companha Siderúrgica Nacional), a obra sempre dependeu de aportes do governo federal.

Em janeiro passado, o TCU determinou a suspensão de repasses governamentais, apontando “alto risco de não conclusão” da ferrovia.

Em nota, a TLSA se disse “totalmente empenhada no planejamento da retomada das obras de construção da ferrovia assim que possível”.

MOMENTO CRÍTICO

O ex-prefeito Marcones Libório (PSB), que administrou Salgueiro por dois mandatos (2009 a 2016) e presenciou o auge e a decadência da cidade, diz que a derrocada coincidiu com a crise econômica do país. “Se a região não tivesse se beneficiado com o período das obras, que atraiu outros investimentos no comércio e construção civil, estaria pior”, afirma Libório.

Assim como moradores ouvidos pela reportagem, o político relata aumento no desemprego e na criminalidade e o agravante da seca, que já dura cinco anos. “Calcula-se que 80% do rebanho bovino do sertão central tenha sido extinto. Ou morreu pela fome ou os animais foram descartados porque seus donos não tinham como manter. O momento é crítico”, diz.

Operador de trator, Everaldo Barros de Oliveira, 39, trabalhou dois anos (2015 e 2016) pela Mendes Júnior nas obras da transposição. Recebia, com horas extras, R$ 2.500 por mês. Com a paralisação, foi dispensado e virou frentista num posto, onde ganha hoje R$ 1.200, menos da metade. “Estamos esperando que [a obra] volte, mas ninguém sabe quando.


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