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ESPAÇO DO INTERNAUTA

MILTONEstrela Solitária

A semana começou triste, muito triste. Com uma sensação de desânimo e moleza confundidos, quase dor, quase desespero. Eduardo Carlos Siqueira Veras (Dardo) viajou. Não quis se despedir de ninguém, atitude estranha, mas compreensível. Quando seus amigos souberam de sua súbita viagem, correram para a estação; o trem já havia acabado de fazer a última curva e sumiu.

Diz Rubem Alves que o amigo é aquela pessoa com quem se tem prazer em compartilhar ideias de forma tranquila e mansa. Acrescento que sorrir de forma sincera somente é possível com um amigo. Dardo era assim. Gostava de conversar, discutir, teimar, sorrir, fosse à calçada de casa, fosse numa mesa de bar, fosse num papo de esquina. Por isso éramos amigos. Amigos dos bons.

Conhecemo-nos na infância. Nas minhas primeiras lembranças do meu tempo de criança, dos banhos de rio, das brincadeiras na calçada, dos carrinhos de madeira, Dardo estava comigo. Ele e outros que, como eu, agora, ficamos a lamentar essa estúpida viagem.

Há quem diga que quem não pode suportar a dor da separação, não está preparado para amar. Não sei se é bem assim. O amor é justamente a intolerância da separação. É DARDOele que grita primeiro; é ele que morre por último.

Perder a esperança é o mesmo que não enxergar a luz. Ainda bem que Dardo, ao sair, esqueceu-se de deixar a estação às escuras. Nós não podemos permitir que a lâmpada seja apagada. Como fazê-lo, então? Cada um deve manter acesa, no peito, a chama do amor e da esperança, como se estivéssemos numa olimpíada patrocinada pela lembrança desse amigo que se atreveu na aventura da viagem.

Passa, ao meu lado, uma mulher a preparar outra pessoa e eu sou forçado a aceitar a dialética das circunstâncias.

E minha alma não cessa de dizer para onde quer voltar.

Aquele que se debruçar à janela logo mais à noite, ou sentado num banco de praça, ou deitado na cama, ou seja onde for, contemplar o céu, há de enxergar uma estrela solitária a cintilar para o lado do nascente. Dardo chegou, fez boa viagem, está em paz.

Por: Milton Oliveira

 


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