Um filho ilustre do nosso Pajeú, dotado das qualidades “moral ilibada e conduta irrepreensível” que meu saudoso sogro – José Correia Filho – sempre exigia de uma autoridade, na noite do dia 30.08.16 utilizou uma concorrida rede social para apresentar seu desencanto com os destinos do nosso país.
Para justificar seu estado de espírito destacou: o Brasil está sendo saqueado, a Constituição está sendo rasgada, o povo está sofrendo sem assistência, os poderes e as instituições públicas e privadas estão apodrecidas e a imprensa está corrompida. Fez questão, contudo, de registrar que sua decepção extrapola a questão do julgamento no Senado, cujo resultado final aconteceu no dia seguinte.
A percepção do nobre conterrâneo se faz presente, em escalas maiores, iguais ou menores, em outras mentes espalhadas pelo país. Como alterar este quadro? Como criar outro ambiente? Para encontrar respostas e iniciarmos um processo de reconstrução fomos buscar na história ações de líderes em épocas de grandes crises.
Para uma reflexão conjunta com nossos leitores e nossas leitoras recorremos a “Nota frente ampla”, emitida em 25.09.1967, por João Goulart “Jango” e Carlos Lacerda, com apoio de Juscelino Kubitschek “JK” uma vez que Renato Archer representou o construtor de Brasília no histórico encontro de Montevidéu. Alguém pode questionar que o momento é outro e que a essência daquele movimento era o “processo de redemocratização do Brasil”, no entanto, tenho convicção plena que os fragmentos a seguir nos indicam caminhos a percorrer.
Após uma introdução destacando a necessidade inadiável do resgate de direitos suprimidos pelo golpe de 1964, traz o texto: “… É preciso que se transforme, corajosa e democraticamente, a estrutura das instituições arcaicas que não mais atendem aos anseios de desenvolvimento do país. É preciso assegurar aos brasileiros o aproveitamento das riquezas nacionais em favor do seu povo e não de grupos externos e internos, que sangram e exploram o seu trabalho”. Na sequencia o texto sugere que não há espaços para ódios, ressentimentos ou propósitos revanchistas e invoca a participação o de todos os brasileiros. Na parte final da nota encontramos: “… Movidos exclusivamente pela preocupação com o futuro do nosso país, não fizemos pactos, não cogitamos de novos partidos, nem de futuras candidaturas à Presidência da República. Conversamos sim longamente, com objetividade e respeito, sobre a atual conjuntura política, econômica e social do país. Não temos ambições pessoais, nem o nosso espírito abriga ódios. Anima- nos tão somente o ideal, que jamais desfalecerá, de lutar pela libertação e grandeza do Brasil, com uma vida melhor para todos os seus filhos”.
Se há 49 anos as três maiores lideranças civis – cassadas e caçadas pela Ditadura – passaram por cima das diferenças e promoveram a ação cuja concretização não ocorreu em virtude do endurecimento do sistema. O que impede que as lideranças atuais deixem os interesses pessoais e grupais e persigam o caminho da união em favor do Brasil?
Sabemos que no cenário atual faltam líderes com as características de Jango, de JK ou de Carlos Lacerda. Porém, com o que dispomos precisamos descobrir rotas. Seguindo no confronto entre “golpistas” x “não golpistas” jamais devolveremos a crença em dias melhores para a autoridade inicialmente citada e para muitos outros brasileiros.
Por: Ademar Rafael