Um antigo ditado popular afirma: “A ocasião faz o ladrão”. Em nosso país as ocasiões fazem-se presentes no cotidiano, nada obstante os esforços realizados nos últimos anos para punir os faltosos. Os escândalos “Anões do Orçamento”, “Collor x PC Farias”, “Sanguessugas”, “Mensalão” e “Lava Jato” formam uma sequência de desvios de conduta sem que o subsequente seja dificultado pelas apurações realizadas no anterior.
Explicações sobre a manutenção do solo fértil para novas investidas podem ser identificadas no livro “Capitalismo de laços”, do professor Sérgio Giovanetti Lazzarini. A obra faz uma analise das ligações entre os setores públicos e privados, sob o conceito de “laços”, aqui entendidos como: “Relações entre atores sociais para fins econômicos”. Adaptado, em nosso caso, para: “Relações entre atores sociais para privilégios pessoais”.
Publicado em 2011 o livro apresenta estudos, realizados entre 1995 e 2009, onde se constata, entre outras variáveis, que as empresas campeãs em doações aos candidatos vencedores dos pleitos para Presidente da República, realizados em 1998 (FHC) e 2002 (Lula) conseguiram acesso preferencial a recursos financeiros via empréstimos subsidiados de bancos públicos ou por meio de investimentos em áreas reguladas pelo setor público.
O subtítulo do livro “Os donos do Brasil e suas conexões”, inspiram o conteúdo das pesquisas e constatações. Escreve o autor na página 45: “A relação clientelista é evidente: doações de campanha em troca de benefícios diretos ou indiretos a empresas privadas”. Por nossa conta adicionamos “e aos seus sócios e dirigentes”.
Ao deixar o Ministério da Justiça, José Eduardo Cardoso afirmou: “É difícil ser republicano neste país”. Sobre isto em 1627 o Frei Vicente do Salvador (1564-1635): “Nenhum homem nesta terra é republico, nem zela ou trata o bem comum, senão cada um do bem particular”. Esta citação encontra-se na página 12 de “A República inacabada”, de Raimundo Faoro.
Insisto que somente com coragem e vergonha na cara poderemos tapar este nocivo sangradouro por onde escapam muitos bilhões.
Por: Ademar Rafael