O Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) para promover uma reflexão coletiva sobre a relação do homem com os recursos hídricos, tendo como tema este ano “Água e Emprego: investir em água é investir em emprego”. Em Pernambuco, a tônica tem sido despertar a consciência individual e coletiva de que é preciso recuperar e preservar nossos mananciais, com o desenvolvimento de ações concretas com esse objetivo. Nesse sentido, três grandes iniciativas vêm sendo tocadas no estado: o Programa Cidade Saneada, o Programa de Saneamento Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Ipojuca (PSA Ipojuca) e o Programa de Sustentabilidade Hídrica de Pernambuco (PSH). Todos eles estão sendo executados pela Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa).
O PSA Ipojuca visa ampliar a cobertura de esgotamento sanitário em 12 cidades que margeiam o rio, promovendo a redução da carga de poluição lançada nele. O programa foi estruturado no valor de US$ 330 milhões, sendo US$ 200 milhões oriundos de financiamento firmado, em agosto de 2013, com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, e US$ 130 milhões como contrapartida do Governo do Estado.
Já o PSH tem foco na recuperação da Bacia do Capibaribe. Orçado em US$ 410 milhões com recursos financiados pelo Banco Mundial e do próprio Governo de Pernambuco, prevê a elaboração de projetos e a execução de obras de abastecimento de água e de sistemas de esgotamento sanitário (SES). Alguns dos municípios beneficiados com as ações do PSH são Surubim, Santa Cruz do Capibaribe, Toritama, São Lourenço da Mata, entre outros.
Por sua vez, o Programa Cidade Saneada consiste em uma parceria público-privada para o esgotamento sanitário da Região Metropolitana do Recife e município de Goiana, com investimentos tanto do setor público quanto do setor privado da ordem de R$ 4,5 bilhões. Quando for concluído, 90% da área compreendida pelo programa terá cobertura de esgoto, havendo a garantia de tratamento de tudo o que for coletado.
Com a ampliação dos sistemas de esgotamento sanitário, a Compesa quer escrever um novo capítulo na história dos recursos hídricos no estado. No entanto, é preciso destacar que apenas investir em saneamento não garante a total despoluição dos rios. “A Compesa está fazendo sua parte para coletar e tratar os esgotos antes que eles retornem ao meio ambiente. Entretanto, a despoluição não depende apenas dela. É importante que a população use corretamente os sistemas de galerias, operados pelas prefeituras municipais, para que não faça ligações clandestinas nessa rede. Os resíduos sólidos também devem ser destinados à coleta municipal e as indústrias devem fazer o descarte correto de seus efluentes”, declarou o diretor de Articulação e Meio Ambiente da Compesa, Aldo dos Santos.
PSA Ipojuca
Nascendo em Arcoverde, no Sertão, o Rio Ipojuca sofre com as interferências do homem ao longo dos seus 320 km de extensão, desaguando na praia de Porto de Galinhas, no Litoral Sul do Estado. Assoreamento, construções irregulares nas margens, desmatamento da vegetação ciliar e, principalmente, lançamento de lixo e dejetos in natura castigam o Ipojuca há anos.
Agora, a Compesa está tentando mudar a realidade desse rio, que é um dos mais importantes da bacia hidrográfica do estado. “Percebe-se que, culturalmente, as pessoas dão as costas para o rio ao longo de sua extensão. Historicamente, jogam no seu leito o que não lhes serve mais, constroem desde casebres a pontos de comércio nas margens e, assim, destroem a mata ciliar. Com esse programa, estamos promovendo não apenas o tratamento dos esgotos das cidades, mas também sugerindo, a partir da implantação de três parques ambientais e plantio de 250 hectares de matas, uma nova cultura de respeito aos recursos naturais da bacia do rio”, comentou o gerente de programas especiais do PSA Ipojuca, Sérgio Murilo.
Para saber como o programa vai transformar o Rio Ipojuca, é preciso, antes, entender o que acontece na extensão de seu leito. Apesar de nascer no Sertão, passando pelo Agreste, é apenas na Mata Sul que o rio se torna perene, apresentando maior vazão a partir da Cachoeira do Urubu, em Primavera. Desse ponto em diante, a água apresenta melhor qualidade, sendo utilizada para abastecer indústrias sucroalcooleiras e parte do Complexo Industrial e Portuário de Suape, além de ser usada na pecuária.
No trecho anterior que corta o Agreste, no entanto, é onde o rio apresenta os maiores problemas. Devido à falta de saneamento nas cidades que se desenvolveram ao longo de suas margens, o rio acabou recebendo todo tipo de dejeto que deveria estar sendo devidamente coletado e tratado.
Conter essa poluição e recuperar suas águas são, justamente, os propósitos do programa. “Vamos implantar rede de esgoto e tratar os efluentes em 12 cidades do Vale do Ipojuca. Serão beneficiadas, diretamente, 240 mil pessoas e, indiretamente, toda a população de 1,2 milhão de habitantes espalhada nos 320 km de extensão do rio”, explicou Sérgio Murilo.
Ao todo, 106 ações estão em curso com financiamento do BID, envolvendo as áreas de meio ambiente, saneamento e fortalecimento institucional. Três Sistemas de Esgotamento Sanitário (SES) estão sendo implantados: Tacaimbó, Venturosa e Gravatá. Em Tacaimbó, mais de 80% das obras da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) estão prontos e cerca de 2,5 km de redes e ramais de esgotos foram assentados. A previsão é que o sistema completo seja entregue em dezembro de 2016. Já em Gravatá, foi dada a ordem de serviço para início das obras da primeira etapa do SES na primeira quinzena de março. A cidade passará a ter 30% de cobertura de esgotos, beneficiando 33,5 mil habitantes. Em Venturosa, o SES está avançando e tem inauguração prevista para o primeiro semestre de 2017.
Em fase de elaboração de projeto, estão os SES de Belo Jardim, Bezerros, Caruaru e a segunda etapa do SES de Gravatá. Também estão sendo elaborados projetos para a construção dos parques lineares “Janelas para o rio”, que serão construídos pela Compesa em Bezerros, São Caetano e Caruaru e mantidos, posteriormente, pelas prefeituras desses municípios.
O programa completo prevê a implantação de 477 quilômetros de rede coletora de esgoto e o tratamento de 926 litros de efluentes por segundo em Arcoverde, Venturosa, Poção, Belo Jardim, Sanharó, Tacaimbó, São Caetano, Caruaru, Bezerros, Gravatá, Chã Grande, Primavera e Escada.
As obras do PSA Ipojuca têm previsão de término em 2019. “Há de se ressaltar que a despoluição de um rio é uma ação de toda uma sociedade. Não se faz numa gestão governamental, nem em seis anos: é uma ação de toda uma geração. Ou seja, a ação patrocinada pelo BID e pelo Governo de Pernambuco é um grande começo e vai melhorar as águas do rio. Entretanto, a manutenção desses sistemas e a elaboração de outros projetos de reflorestamento e mobilização social com a finalidade de revitalizá-lo serão de extrema importância para a vitalidade do Ipojuca”, finalizou o gerente.
Cidade Saneada
Com dois anos e meio de execução, o programa já apresenta melhoria na qualidade e na velocidade do atendimento e modernização na prestação dos serviços de esgotamento sanitário, como o uso de equipamentos e tecnologias de ponta nas obras e operações do sistema. Nesse intervalo, as solicitações de serviço passaram a ser atendidas em 100% dos casos com menos de 48 horas após o chamado, sendo que 75% deles resolvidos nas primeiras 24 horas. Para exemplificar, em vários bairros, como Ipsep, no Recife, Vila Rica, em Jaboatão dos Guararapes, e Maranguape I, em Paulista, o número de chamados caiu em 70%. “Com essa agilidade, eliminamos pontos críticos de funcionamento dos sistemas e nossos clientes ficam satisfeitos”, observou o diretor de Novos Negócios da Compesa, Ricardo Barretto.