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PERNAMBUCO NÃO É UMA ILHA

joaoPor: Magno Martins

A escolha do jovem João Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos, para a chefia de gabinete do governador Paulo Câmara, antecipada, diga-se de passagem, por este blog, gerou uma discussão histérica nas redes sociais. No tom da discordância, a termologia mais focada nos protestos verbais online se referia ao fato dos Campos instalarem uma capitaria hereditária no Estado.

Venho de uma longa atuação no jornalismo político, exatos 35 anos, dos quais 15 em Brasília, de onde nunca me desvinculei, tendo presença na capital com a periodicidade que os fatos exigem. Não entendi, sinceramente, se a reação contrária foi mais pelo fato de João ser jovem, um garoto de 21 anos, ou por ser filho de um político de família tradicional no Estado.

Se a incompreensão se dá pela idade, políticos famosos que atuam há muito tempo no Estado, como Joaquim Francisco, José Jorge Cavalcanti, Gustavo Krause, Romário Dias e Romero Jucá, pelo que sei, além de técnicos, como Luiz Otávio Cavalcanti e Jorge Cavalcanti, eram imberbes quando ingressaram na vida pública, graças a uma oportunidade dada pelo ex-governador Moura Cavalcanti, responsável pela formação de quadros políticos e técnicos.

Feliz do governante que se preocupa com o futuro do País e que não olha apenas para o momento circunstancial. Feliz do governante que tem a visão e a preocupação de fomentar quadros explorando a vocação, com capacidade de descobrir talentos. Não fosse a visão futurista de Moura, Pernambuco seria, hoje, muito mais pobre em quadros políticos.

Como Moura, Miguel Arraes também descobriu talentos jovens, como Ricardo Leitão, João Bosco, Evaldo Costa e Izael Nóbrega. Seguindo a trajetória do avô e conhecendo também a história sábia de Moura, Eduardo abriu as portas para Danilo Cabral, Sileno Guedes, Aristides Monteiro, Tadeu Alencar e Sebastião Oliveira, além, claro do prefeito Geraldo Júlio e do governador Paulo Câmara.

Se a incompreensão se der no ângulo da política familiar e patriarcal, os argumentos são castelos de areia. Na Paraíba, Estado vizinho, 60% dos deputados federais são filhos ou parentes de políticos tradicionais. O hoje senador Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado, filho do ex-governador Ronaldo Cunha Lima, foi eleito deputado federal também com 21 anos.

Cássio seguiu a trajetória do pai e elegeu seu filho Pedro Cunha Lima deputado federal nas eleições passadas, o mais votado, vale a ressalva. No Rio Grande do Norte, o ministro Garibaldi Alves (PMDB) elegeu o filho Walter Alves deputado federal. Já o senador Agripino Maia elegeu o filho Felipe Maia deputado federal. Em Goiás, o ex-governador Maguito Vilela (PMDB) elegeu seu filho Daniel Vilela deputado estadual. Em Minas, o ex-governador Newton Cardoso elegeu o filho Niltinho deputado estadual.

Na Bahia, uma das maiores surpresas como revelação de gestão é ACM Neto, neto e herdeiro político do ex-senador Antônio Carlos Magalhães. ACM Neto foi deputado federal com apenas 21 anos, mesma idade de João Campos. O ex-deputado Mário Negromonte elegeu o filho Mário Negromonte Júnior deputado estadual. No Rio, a política não é diferente.

Rodrigo Maia, expoente do DEM na Câmara Federal, filho do ex-prefeito César Maia, também chegou cheirando a fralda no Congresso. O ex-governador Anthony Garotinho já elegeu a mulher Rosinha governadora e tem uma filha, Clarissa, deputada federal. O ex-governador Sérgio Cabral elegeu o filho Marco Antônio deputado federal.

Já em Alagoas, o presidente do Senado, Renan Calheiros, elegeu o filho Renan Filho governador do Estado, isso sem falar em outros Estados do Norte, como o Pará, onde o senador Jáder Barbalho (PMDB) elegeu o filho Hélder Barbalho deputado federal, hoje ministro da Pesca.

Em São Paulo, o ex-governador Mário Covas, referencial de esquerda no País, também deixou seu herdeiro político: Mário Covas Neto, filho de Mário Covas, e Bruno Covas, neto de Covas. No Amazonas, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), elegeu o filho Arthur Bisneto deputado estadual mais votado no Estado.

Vou parar por aqui, porque a lista é extensa, mas fica muito claro que Pernambuco não é uma ilha e, portanto, não poderia ter uma cultura política diferente. Descobrir quadros e dar oportunidades a talentos não é crime, principalmente quando se aposta em alguém que tem vocação, jeito e desenvoltura, atributos de João Campos.


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