A menina Milena não gosta de tomar banho ao ar livre, na mata, mas, na casa da avó, ela não tem escolha. A casa de Ana Fernandes de Oliveira, na zona rural de Serra Branca, no Cariri paraibano, tem apenas um buraco que é a promessa de um banheiro. “É difícil quando chega gente, você fica com vergonha, né?”, comentou a menina.
Durante esta semana, o JPB 2ª Edição exibe uma série de reportagens especiais sobre saneamento básico nos municípios da Paraíba. Nesta quarta-feira (17), o destaque é para o problema das condições sanitárias dos municípios paraibanos.
Mais de 20 banheiros de casas da zona rural de Serra Branca ficaram na promessa da prefeitura e do Governo Federal. Cansada de esperar, dona Ana resolveu dar seguimento à obra por conta própria. “É caro, mas assim mesmo nós vamos fazer. O menino já comprou o tijolo”, disse.
Apenas 33% das cidades paraibanas que têm abastecimento de água regular possuem coleta de esgoto. Das que têm coleta, o esgoto é tratado em 43% delas.
Na casa de Maria do Socorro Fernandes, o buraco também foi feito para a instalação de um banheiro. Porém, como a obra nunca foi feita, ela aterrou o buraco para evitar a proliferação de mosquitos. “Ficar sem banheiro é ir pros matos, tomar banho numa bacia, banho de cuia, escondido. Tem que ser numa hora que não passe ninguém. Se tiver passando gente, a gente já não pode tomar banho”, relatou a dona de casa.No bairro Alto Alegre, na periferia de Sumé, também no Cariri, o esgoto foi retirado da porta das casas, mas o problema continua em outro lugar. A caixa de esgoto fica dentro da casa da agricultora Maria de Fátima da Silva. Quando entope, a sujeita transborda no banheiro. Segundo ela, a família vive doente. “O cano vive entupido. Quando chove, a água sobe”, lamentou.
Cada R$ 1 investido em saneamento gera uma economia de R$ 4 em saúde. Significa menos gente no hospital e menos gasto com medicamentos. A agricultora Ana Lúcia Marques sofre cuidando do filho. “Ele teve um problema de asma, só vivia internado. É assim direto, com febre, nariz entupido”, lembrou.
As condições precárias de esgotamento sanitário aumentam os riscos de saúde de todos, principalmente de crianças, que são mais vulneráveis a diarreias, doenças respiratórias e de pele. A cada 2,5 minutos, uma criança morre no mundo por não ter acesso a água potável e a rede de esgoto.
A Prefeitura de Sumé disse que já concluiu 40% da obra de saneamento da cidade e que outra etapa do serviço deve começar em março. A Prefeitura de Serra Branca, por sua vez, não se pronunciou sobre os problemas apresentados na reportagem. (Do G1 PB)