Morei em Afogados da Ingazeira numa época que se um apologista desejasse ouvir um belo pé-de-parede tinha que se deslocar para uma cidade da região, especialmente, Tabira, São José do Egito, Santa Terezinha, Imaculada, Jabitacá ou Tuparetama.
Quando perguntávamos aos poetas porque eles não iam até nossa cidade eles afirmavam: Como se lá não tem público? Contestávamos: Tem sim. Para esse evento vieram de lá “x” pessoas. Era um verdadeiro contra censo, havia gente nas cantorias fora e não tinha público para atrair uma cantoria em nossa casa.
Antônio Mariano assumiu a prefeitura e resolveu enfrentar o problema. Apoiou Beijo na realização do primeiro congresso de violeiros em Afogados e promoveu cantorias, entre as quais destacamos três: Zé Feitosa x Moacir Laurentino, no Cine Bom Jesus, Moacir Laurentino x Ivanildo Vila Nova, no Senzala e Moacir Laurentino x Sebastião da Silva, no ACAI.
Quebrado o encanto, com os poetas João Paraibano e Sebastião Dias deixando de ser azarões em festivais vieram outras grandes cantorias. Houve fartura e os espaços Bar do Luiz de Ernesto, Senzala, Gruta da Praça, ACAI e AABB recepcionaram grandes nomes da cantoria. O povo apareceu com força.
João Paraibano, sabedor dessa dificuldade inicial, separou a data de onze de outubro de cada ano para realizar um grande encontro de violas na cidade que honrou morando e defendendo com seus “puros e venenosos” versos.
O evento tomou forma e por ser uma data fixa foi reconhecido pelos cantadores e pelo público como a “data de João”. O poeta de Princesa Isabel, com sua extraordinária humildade, soube angariar fundos, público e cantadores para o encontro. Ganhou pouco ou nenhum dinheiro com o evento, a gratificação era inserir Afogados da Ingazeira no calendário poético nacional. Missão cumprida durante sua trajetória terrena.
O reconhecimento da obra de João, a emoção com sua partida precoce e a coragem da família e amigos fizeram com que o encontro permanecesse. Em 2014 o brilho continuou, mas, no dia 11.10.15 na AABB os cantadores Jorge Macedo x Severino Pereira, Zé Carlos Pajeú x Zé Viola, Edmilson Ferreira x Antônio Lisboa, Diomedes Mariano x Sebastião Dias e Rubens do Valle x Evaldo Severino, cantaram para uma plateia menor que as dos anos 70.
Caso excluíssemos os visitantes, os familiares dos poetas, os organizadores o grupo Afogadense somado não dava três pessoas por cada cantador, isto mesmo, o público interno não chegava a 30 pessoas. Será que vamos ter que reeditar o mote: “Afogados da Ingazeira, precisa versos também.” Espero que não. A memória de João Paraibano, os esforços empreendidos há quarenta anos e a cultura não merecem.
Por: Ademar Rafael