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CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

ADEMARDESDE OS ANOS 70

Qualquer cidadão que chegar à Rua da Baixa, ao Beco de Laura ou ao Checo’s Bar e perguntar por Izildo Lucena, com certeza, ficará sem uma resposta satisfatória. No entanto, se em qualquer lugar na encantadora São José do Egito, indagar por Lostiba na hora será informado sobre o paradeiro do músico egipciense.

Lostiba carrega consigo um ingrediente que move a carreira de qualquer músico: “Gosta de estar onde o povo está.” Suas apresentações têm o mesmo conteúdo ao acontecer numa mesa de bar, em uma barraca de festa, em um aniversário ou no intervalo de um “baião de viola”. É imutável o seu desempenho.

No final dos anos 80, levados por Ivanildo – Fiscal do Banco do Brasil e Presidente da AABB de Afogados da Ingazeira -, Lostiba e a extraordinária Zá Marinho davam sentido nas tardes que curtíamos olhando de vez em quando e quando em vez para o lago formado pela Barragem de Brotas.

Seu repertório transita de Cartola a Zé Marcolino; de Lupicínio a Delmiro Barros e quase sempre encerra cada música com um repique nas cordas do violão criando variáveis que jamais se repetem. Seu estilo possivelmente foi modelado com as serestas de João Pequeno e as toadas de Canhotinho.

É impossível uma cidade do Sertão pernambucano que não tenha escutado os acordes do violão de Lostiba com sua voz peculiar. Grande companheiro de Val Patriota, uma das mais belas vozes que conheço. Amigo do povo simples do Sertão e apologista de primeira grandeza. Sua espontaneidade e disponibilidade fazem com que raras vezes seja negado um pedido para uma apresentação. Para Lostiba o aplauso e a questão pecuniária são periféricos, essencial é está numa roda de amigos dedilhando seu violão e cantando seu infinito estoque musical.

São incontáveis as tardes de sábados e domingos e as madrugadas rompidas em companhia de Lostiba e outros seresteiros da nossa terra. Outra característica de Lostiba é dar um jeito de atender todos os pedidos, venham de onde vier, de alguma forma ele agrada quem lhe solicita alguma música.

Foi pela sua voz que conheci “Cenário de Amor”, um dos clássicos de Petrúcio Amorim e sua intepretação no soneto de autoria de Ronaldo da Cunha Lima, intitulado “Fortaleza Interior”, é tão perfeita quanto a criação do poeta paraibano.

Cantando forró, samba, bolero ou outro estilo a voz de Lostiba é inconfundível, muita gente boa tem suas músicas apresentadas com a roupagem que somente Izildo Lucena concebe. Ele é único quando se desloca de xote de Zé Marcolino para uma das criações de Cartola e o faz com a liberdade que um moleque pula de uma ponte no leito cheio do lendário Rio Pajeú.

As gravações de Lostiba, disponíveis no mercado fonológico, são uma gota d’água perante o sua longa jornada como tocador e cantador da nossa terra. Ao ouvirmos uma das suas gravações encontramos talento, musicalidade e harmonia. Mas, com a devida vênia de vocês, eu prefiro Lostiba numa farra em uma cidade do Sertão, neste ambiente ele é exuberante, múltiplo e poético.

Por: Ademar Rafael


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