Inúmeras vezes que li conteúdos relacionados com padrão ético desejável encontrei a citação: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” Este verdadeiro tratado, lapidado por Rui Barbosa, servia como base para o texto.
Ocorre que, recentemente, ao ler o livro “A crise financeira da abolição”, do americano John Schulz, professor de história das finanças e executivo da Business School, deparei-me com o seguinte texto: “Apesar dessa contribuições, minha opinião e a que Rui foi um oportunista corrupto.” As contribuições de que fala o autor são as decisões tomadas pelo jurista na época que ocupou o cargo de Ministro da Fazenda.
Tomei um susto e ao seguir com leitura da obra encontrei relatos de discordâncias sobre o legado do jurista baiano, traduzidas nas opiniões de Raimundo Magalhães Júnior, autor de “O homem e o mito” e de Américo Jacobina Lacombe, autor de “À sombra de Rui Barbosa”, o primeiro defendendo e o segundo contestando atos praticados pelo político da Bahia.
No capítulo que trata do encilhamento – crise financeira provocada por bolha econômica que ocorreu no Brasil, entre o final da Monarquia e início da República -, John Schulz detalha ações de Rui Barbosa em favor de republicanos paulistas, de Francisco de Paula Mayrink e do seu Banco dos Estados Unidos do Brasil. Afirma com todas as letras que dos primeiros o Ministro recebeu apoio e do banqueiro recebeu benefícios pecuniários e cargos de diretoria em empresas do grupo Mayrink.
Como esta coluna não tem a marca de acusar ou de apontar o dedo em direção a quem quer que seja deixo as conclusões a cargo dos leitores e das leitoras, nosso papel é trazer informações e provocar reflexões.
Uma coisa fica clara ao lermos o livro sobre o período pós-abolição. Invariavelmente as decisões relacionadas com nossa economia são tomadas de acordo com as conveniências de cada momento e muito distantes dos interesses do país, naquela época, igualzinho aos dias atuais, o imediatismo e a improvisação são as bases das ações. Os problemas com elas gerados são tratados em governos futuros com medidas amargas, principalmente para os contribuintes.
Cada governante julga-se responsável unicamente pelo prazo da sua gestão e em nome da governabilidade ele, e os seus comandados, praticam todos os atos que gerem estabilidade política. Ao seguirmos essa devastadora lógica encontramos como reais beneficiários os próprios políticos e seus aliados. Na lista dos últimos podemos encontrar produtores rurais, industriais, comerciantes, empreiteiros, cada um com mais ou menos importância. No entanto, os campeões de repetência em benefícios são os banqueiros. Os motivos com o mínimo de esforço podemos descobrir: “É com dinheiro que se compra votos, mandatos, estabilidade política e/outra variáveis de interesse dos gestores.” Tudo pago com dinheiro público à custa dos contribuintes.
Por: Ademar Rafael