O Nordeste já dispõe de um instrumento para ajudar gestores públicos e a população a se preparar para enfrentar longos períodos sem chuva. O monitor da seca – disponível ao público no site da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) – traça um retrato atual da estiagem e indica como está progredindo, mês a mês, baseado em dados diversos, coletados por várias instituições. O instrumento foi construído em parceria por órgãos de todos os Estados nordestinos, com apoio de instituições federais e do Banco Mundial.
“O modelo não faz previsão”, enfatiza o diretor-presidente da Apac, Marcelo Asfora, acrescentando que o monitor funciona como um gatilho que dispara as ações previstas para enfrentamento da estiagem, de acordo com seu grau de severidade. Mas Estados e municípios precisam ter planos previamente definidos para cada situação apontada pelo mapa. “Se a seca for fraca, a Compesa pode iniciar uma campanha de redução de consumo. Se for intensa, adotar racionamento”, exemplifica.
O monitor recebe dados sobre chuvas, umidade do solo e nível dos reservatórios, enviados por entidades de monitoramento como a Apac e similares em cada Estado. Essas informações são agrupadas pela instituição que coordena o projeto – no caso, a Agência Nacional das Águas (ANA) –, processadas por um programa de computador e enviadas para as instituições responsáveis pela elaboração do mapa. “Esse instrumento permite uma visão única da seca em todo o Nordeste”, garante Marcelo Asfora.
Mas antes de o mapa ser publicado no site das instituições envolvidas, ele ainda precisa ser validado. Isso é feito por voluntários e pessoas (incluindo agricultores) que vivem nas áreas afetadas. Depois de uma série de mapas produzidos, é possível verificar se a seca está se intensificando ou não.
Marcelo Asfora argumenta que o monitoramento de seca é uma atividade complexa, pois não basta saber apenas quanto, quando e onde choveu para definir a intensidade da estiagem. “Pode chover abaixo da média em uma região e a agricultura não ser impactada”, disse, lembrando que 2011 não foi um ano “seco”, mas os reservatórios de água do Sertão já estavam com nível baixo.
Na avaliação do presidente da Apac, a seca atual é mais intensa – por estar instalada desde 2012 – que a de 1998. “Mas a capacidade de resposta do Estado é melhor. Portanto, os impactos são menores.” Para o próximo ano, não há boas perspectivas, segundo a Apac. “Os modelos meteorológicos indicam que o fenômeno El Niño (que provoca o aquecimento das águas do Pacífico) tende a se intensificar. Por isso, as chuvas devem ficar abaixo da média no Sertão.” (Claudia Parente-JC)