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CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAELA VOLTA

Sempre desejei que minha volta ao nordeste acontecesse no formato fogo brando, estilo aquele utilizado para prepararmos o mungunzá e assim está ocorrendo. Não é fácil desapegar-se de lugares e pessoas que lhe deram mais que receberam, esta é minha relação com Marabá.

Uma vez tomada a decisão coloquei o carro na rodagem e ao cruzar o rio Araguaia em Araguatins – TO, o rio Tocantins no Estreito – MA e o rio Parnaíba em Floriano – PI percebi que as terras dos grandes rios estavam ficando para trás.

O reencontro com o triangulo CRAJUBAR – Crato x Juazeiro x Barbalha – CE e com Afogados da Ingazeira – PE foi a entrada; transitar no pedaço de chão com a maior concentração de poetas por metro quadrado do mundo, composto pelas cidades de São José do Egito – PE, Prata e Sumé – PB foi a “pinga” com caju para abrir o apetite e o trajeto entre Campina Grande e João Pessoa – PB foi o prato principal.

Os primeiros dias serviram para procurar a nova morada e reencontrar os amigos Zé Carlos de Neco Piancó, Inalva e filhos. No final de semana os presentes começaram a aparecer. Assistir o programa televisivo “Sala de Reboco”, com apresentação de Santana o Cantador, tendo como atração principal a cantora Liv Moraes, filha do excepcional Dominguinhos, fez com que a volta fosse carimbada com o selo de qualidade da cultura nordestina.

O melhor, no entanto, estava a caminho. O colega Zé Carlos ao visitar São José do Egito, durante a Festa Universitária trouxe-me o livro “Zé Marcolino – Conversa sem protocolo”. Em referida obra Marcos Passos, filho legítimo da terra dos cantadores apresenta um apanhado sobre Zé Marcolino, o gênio de Sumé – PB que presenteou Pernambuco com sua presença, enquanto morador em Serra Talhada, terra do Rei do Cangaço.

A leitura do livro fez com que este “cigano” fosse novamente contaminado com os causos e as coisas do nosso sertão. Os depoimentos, as letras das músicas e as entrevistas inseridas no extraordinário trabalho de pesquisa envia nossa atenção para atos e procedimentos do sertanejo. Marcolino foi, é e será o extrato vivo de cenários que não somente inspiraram suas magistrais criações como representam o que há de melhor no universo matuto: a simplicidade, a amizade e a coragem.

É magnífico descobrir que o nordeste continua, por meio da arte dos seus habitantes, sendo uma fonte inesgotável de produções artísticas superiores a soma dos “enlatados” produzidos para “artistas” fabricados por meio de estratégias de marketing patrocinadas pela mídia venal. Nada, entretanto, calará vozes do nível de Marcolino, Santana, Liv Moraes… Viva o sertão.

Por: Ademar Rafael


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