No início do século XX o Rio de Janeiro nos presenteou com um Cunha famoso. Euclides da Cunha que em 1902 lançou “Os sertões” deu orgulho ao Brasil ao desenvolver atividades advindas das suas inúmeras habilidades como engenheiro, jornalista, escritor, naturalista entre outras profissões.
O episódio que provocou sua morte e a crise familiar que precedeu a “Tragédia de Piedade” não foram suficientes para jogar sua rica história na lama ou no
esquecimento.
Na primeira década do século XXI, como uma sacanagem tipicamente carioca, o Estado do Rio de Janeiro nos oferta outro Cunha, o Eduardo. Esta figura, pouco relevante quanto tomada na condição de autoridade com perfil aceitável para os cargos exercidos, tem causado danos à ética, à moral e o bom censo.
O Cunha do século atual é tão malandro que caso fosse criado um samba para ele a autoria necessariamente teria que ser de um trio da envergadura de Wilson Batista, Geraldo Pereira e Moreira da Silva. Um único compositor não encontraria adjetivos para o Presidente da Câmara Federal.
Em sua biografia o Cunha dos nossos dias carrega a extraordinária desenvoltura na eleição de Collor, atuação em órgãos públicos e privados sempre cercados de práticas e atos polêmicos, brigas com Garotinho, seu protetor durante a época que o político de Campos dos Goytacazes exerceu o cargo de Governador e Eduardo ocupou assento na Assembleia Legislativa carioca e na Companhia Estadual de Habitação.
Sua performance em emissoras de rádio, especialmente na Melodia FM, deu-lhe a visibilidade e os ingredientes presentes em cem por cento nas carreiras de políticos populistas. Durante o mandato de Deputado Federal de 2010 a 2014, ao ocupar o cargo de líder do PMDB apresentou ao Brasil o seu estilo.
No corrente ao ano vencer a eleição de Presidente de Câmara passou a agir com a “independência” que julga adequada e tem imposto derrotas ao executivo. No período entre 15 a 17.07.2015 após ser denunciado em depoimento da “Operação Lava Jato”, declarou-se oposição do poder central, apesar do Vice Presidente pertencer ao seu partido, e fez um pronunciamento em rede nacional, digno de uma parlamentar de uma republiqueta de quinta categoria.
Caso fosse detentor do principal cargo do executivo e um político do nível de Eduardo Cunha anunciasse sua ida para oposição eu faria um grande festa. Dilma manteve-se cautelosa, explicação para isto nunca descobriremos. São coisas de Brasília.
No Brasil do “denuncismo midiático”, das “delações premiadas” e da “presunção de inocência” sempre haverá espaço para políticos com as características de Eduardo Cunha, pena não termos criado universo favorável para proliferação de pessoas com as credenciais de Euclides da Cunha.
Por: Ademar Rafael