Quando escrevi a crônica “Sem limites” já sabia que o paraibano Jessier Quirino havia gravado um DVD com retalhos da sua obra. No entanto, não desconfiava nem de longe que a coletânea tivesse a grandiosidade que tem, mesmo reconhecendo o extraordinário potencial do autor.
Um caboclo do sertão pernambucano, atualmente morando em Marabá, preparando a mala para voltar pro nordeste ao assistir “Voltando pro nordeste” e “Perguntinha cabulosa” da uma imensa vontade de botar o pé na estrada, cruzar Pará, Tocantins, Maranhão e Piauí e na sombra de um juazeiro da beira de uma estrada do Pajeú rever as coisas citadas em referidos textos.
No conteúdo de “Parafuso de cabo de serrote” vemos uma banda da Feira de Caruaru mencionada numa velocidade que supera a corrida de um preá nas estreitas veredas dos roçados da minha terra.
Em “Mané Cabelim e a Internet” e “Matuto no cinema” o poeta Jessier Quirino prova que o formato das suas apresentações eleva sua obra para um patamar inatingível para as pessoas comuns e cria um universo onde as “estórias” catingueiras ganham a luminosidade harmoniosa de faróis de vagalumes numa escura noite sertaneja.
As participações de Xangai e Maciel Melo, nas faixas “Matança”, “Paisagem do interior”, “Rainha de todos os dias” e “Mistério da Fé”, ampliam a nordestinidade da obra com a leveza que um grupo de borboletas pousa na beirada de um barreiro, ambiente onde os três modelam suas criações.
Nas interpretações dos clássicos “Vou-me embora pro passado” e “Agruras da lata d’água” o mágico dos “causos” nordestinos molda e solda suas narrativas em um monumento cuja matéria prima é gerada exclusivamente numa das maiores indústrias de talentos do mundo, a chapada da Borborema.
As demais faixas do DVD serão omitidas nesta crônica para que a vontade de assistir a coletânea cresça igual fogo em capim seco. Porém, garanto que todas têm o gosto de uma manga madura, tirada do pé e degustada sem faca, lenço de papel ou outro adereço das etiquetas urbanas.
As Edições Bagaço, os músicos, os fotógrafos, os revisores, os projetistas gráficos e todos que contribuíram com o projeto podem adicionar em seus currículos a participação em um espetáculo que será uma referência para todos os amantes da cultura nordestina.
Amigos leitores, não fiquem somente na vontade gritem para seus vizinhos este recorte da letra “O pidido”, do menestrel Elomar: “Já qui tu vai lá prá fêra, traga de lá para mim”: O DVD “Vizinhos de Grito”, do maior decifrador dos códigos matutos e dignificador das coisas simples, JESSIER QUIRINO.
Por: Ademar Rafael