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SALGUEIRO DE ROTA DA MACONHA À ROTA DA PAZ

salEra 29 de abril de 1991. O padre José Maria Prada, pároco de Salgueiro, foi assassinado a tiros, na casa paroquial. O motivo: ele se negou a realizar o casamento de um policial que já era casado. Pelas leis da Igreja Católica, o matrimônio é um sacramento indissolúvel.

A imagem se tornou histórica. O homem manso, de voz baixa, pobre por opção, caído no chão e vestido com a simplicidade de sempre. A camisa listrada de azul e manchada de sangue se tornou um dos principais símbolos da mudança, em Salgueiro.

No mesmo dia, assume a paróquia o Padre Remi de Vettor, italiano da congregação dos Servos da Caridade de São Luis Guanella. Ele conta que encontrou uma cidade com muitos problemas de ordem social. Salgueiro era famosa pela insegurança e violência. “Existia no meio do povo, o silêncio e o medo. O povo não tinha coragem de falar. De levantar a voz. Percebia a realidade, mas não tinha coragem de abrir a boca. De denunciar”, lembra.

A camisa suja de sangue foi exposta numa cruz de madeira e carregada pelo povo nas celebrações e caminhadas como uma forma de pedir justiça. As famílias de Salgueiro foram convidadas a levarem suas próprias cruzes representando os parentes assassinados. A partir de então, a praça da igreja matriz estava sempre cheia. O povo aprendeu a protestar contra a impunidade.

O período era, não só de violência, mas de progresso da droga. A maconha era, para os agricultores, uma alternativa à seca. Com pouca água se cultivava a droga e se mantinha a família por, pelo menos, um ano. “Indo no interior a gente sabia que, nos sítios, era normal os agricultores plantarem a droga. Era um meio de sustentação do período”, explica.

Paralelamente à disseminação do plantio da droga surgia um esquema mafioso que comprava a droga e distribuía para todo o País. “A gente sabe que foi preso, aqui, um traficante do Comando Vermelho. Claramente, eram as pessoas que comandavam toda essa estrutura de comércio da droga, dirigida pelos grandes movimentos mafiosos do Rio de Janeiro”.

A situação explodiu, nacionalmente, em 1999, com a Operação Mandacaru. O exército interveio com 1500 soldados, destruindo as plantações da erva. De acordo com Padre Remi, os pequenos agricultores foram presos, mas os mafiosos continuaram em liberdade.

A instalação do exército assustou a população. O padre, então, chamou o general da operação e as autoridades militares para um debate na praça da matriz, com a presença do povo, que lotou o local. Entidades e agricultores questionaram o general, que teve a oportunidade de justificar a presença da operação no território e pedir a compreensão dos salgueirenses. “Ou o exército trabalhava junto ao povo ou o povo se fecharia ao exército e condenaria a invasão”, afirma Remi.

Nas missas, o pároco começou a pedir que, em lugar do dinheiro, as pessoas depositassem denúncias na cestinha da oferta.

padreEm 6 de abril de 2000, a Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI do Narcotráfico veio a Salgueiro para ouvir Padre Remi (foto), que repassou as denúncias.

A mudança começava a aparecer. “O povo organizado que acredita na sua força, na sua organização, começa a dar um basta na situação em que vive e protagoniza a mudança. O povo apoiou, se uniu, participou, gritou e denunciou”, diz o religioso.

A cidade onde os assaltos eram normais, assim como eram frequentes os sequestros de caminhões de cargas e até a morte dos motoristas, começou a agir em favor da paz. “Depois de um período de mentalidade política de omissão, igreja e política se juntaram nesse combate, levantando a bandeira da esperança, em reação ao ambiente perverso que existia nessa cidade”, disse o Padre.

 


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