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MEUS CARNAVAIS NO SERTÃO

CarnavaisAnos1970-bEstou dando adeus ao Recife, rumo a uma praia distante e silenciosa. Fujo do Carnaval, diferentemente do passado. Já gostei muito da diversão do momo. Garoto no Sertão nos anos 70, “pulava”, como diziam por lá, os quatro dias sem parar no Aero Clube de Afogados da Ingazeira, o Acaí.

Isso mesmo, aero clube, sem nunca ter descido um avião por lá. Não me pergunte a razão, mas até hoje não sei a origem do nome. Só lembro que eram bailes românticos, apaixonantes, puxados pela orquestra de Dinamérico Lopes, com marchinhas que faziam sucesso no País inteiro, a coqueluche do Carnaval.

Dinamérico Lopes, “seu” Dino, era um maestro de mão cheia, criou uma escola de música em Afogados da Ingazeira sendo responsável pela formação de uma geração de novos e talentosos artistas. Sua orquestra era tão primorosa e famosa que animou carnavais em outras galáxias além da fronteira de Pernambuco.

Com a aguçada memória de Júnior Finfa, companheiro de jornadas carnavalescas no Acaí, cito integrantes da orquestra que encantavam com seus instrumentos soprando a nossa alegria, como Guaxinim, Luiz de Ernesto, Mestre Biu, Zé Pilão, Lulu Pantera, Chico Vieira e Chagas, este o caçula do grupo.

Também brilhavam Jarbinhas Gois, Adilson Ângelo, o grande Zé Malaia e Zé de Nora. O clube lotava numa animação contagiante. As mulheres vinham de shortinho, eram as colombinas em busca dos Pierrôs. Meu tio Coió, o mais animado da família, hoje já passando dos 80, formava um dos casais mais animados com a sua Tila.

Gedeão e dona Carmélia vinham em seguida, sem esquecer Zé Panqueta e dona Mariquinha, grandes personagens da nossa terra. Foi na lanchonete de Gedeão, aliás, que comi um Bauru pela primeira vez. Lá, os sanduiches vinham a jato. Explico: como o balcão era grande e Gedeão atendia sozinho a enorme clientela, mirava o cliente, chamava sua atenção e atirava o pedido em sua direção.

Os desavisados não conseguiam pegar o prato, que caia ao chão, se quebrava e quebrava a vontade de comer. Já Dona Mariquinha tinha um bar numa posição estratégica: no coração da praça central, batizada de Arruda Câmara, em homenagem ao ex-deputado, que era brabo e as vezes se armava feito um cangaceiro para defender o Sertão e nossa gente.

Era lá que a nossa turma da bebedeira e da molecagem esquentava os tamborins e molhava o bico antes de “decolar” para o Acaí, com direito a botar a conta no prego mais alto da parede dos fiados.

Havia nos saudosos carnavais uma romântica disputa entre o Pierrô e o Arlequim pelo amor da Colombina. Saudosos e saudáveis carnavais! Usávamos confetes, serpentinas e lança-perfumes. Lança- perfume era para se lançar uns nos outros, e não para ser inalado como hoje, numa delicada e bonita confraternização carnavalesca, assim como os confetes e as serpentinas.

Eram carnavais de belas fantasias: odaliscas, baianas, colombinas, holandesas, tirolesas, espanholas, portuguesas. De ingênuas marchinhas carnavalescas – marchas-rancho, sambas-canções, frevos e sambinhas de letras inocentes.

Maria Candelária que era alta funcionária. Olha a cabeleira do Zezé. Oi você aí, me dá um dinheiro aí… Filinto, Pedro Salgado, Guilherme, Feneloca e seus blocos famosos. Vem morena, morena do brinco dourado. Vem morena, vem depressa que eu estou apaixonado. Mamãe, eu quero, mamãe eu quero mamar…

Ah! Carnavais do passado! Tão cheios de alegria, olhares furtivos lançados para os seres desejados. Romances passageiros de folia, confete, serpentinas e lança-perfume. Gostosas marchinhas, que nos enchem o peito de saudade. Ah, belos carnavais!

Tempos de romantismo, que não voltam mais. Eu era tão feliz e nem sabia! Nas madrugadas, já cansados, saíamos em turma do Acaí, como alegres colibris, sonhando com outros dias. Belos carnavais de um tempo que não volta mais.

Morena cor de canela, Linda flor da madrugada.

Bom Carnaval e até quarta-feira de Cinzas!

Escrito por: Magno Martins


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