Em 1982 conheci a Escola do Sítio Forte, localizada na praia do mesmo nome na Ilha Grande, município de Angra dos Reis no Estado do Rio de Janeiro. Nos anos 80 referida escola que também atendia crianças das praias vizinhas, chegou a contar com trezentos alunos.
As tias Celma, Cidoca, Erlei, Fátima e Maria do Carmo fixaram residência na comunidade, trocaram experiências e deram atenção aos alunos em tempo integral. A especulação imobiliária e os novos tempos expulsaram os nativos das diversas praias da Ilha Grande para o continente e as professoras também tomaram outros rumos uma vez que os alunos foram ficando raros.
Em janeiro deste ano retornei ao local e deparei-me com a mesma escola que conheci cheia de crianças com somente dez alunos e uma única professora. Por saber que este fato tem ocorrido na esmagadora maioria das escolas rurais do Brasil outro fato chamou minha atenção. Na escola reformada em 2004 foram introduzidas grades em todas as portas e janelas.
Conversando com a antiga zeladora ouvi que o reforço exagerado foi motivado pelas seguidas invasões que a escola sofreu. Isto é, uma escola sendo seguidas vezes invadida na calada da noite e os objetos de valor sendo subtraídos por meliantes.
Como admitir que um ambiente onde é prestado um serviço de alta relevância para comunidade seja assaltado rotineiramente? Sabemos que a escola é a principal concorrente dos bandidos. Crianças tempestivamente instruídas resistem às convocações do mundo cão. Talvez isto motive a desconstrução do ambiente escolar por parte dos criminosos. Quanto maior o número de crianças fora da escola, maior o contingente disponível para o crime.
Mesmo atendendo os alunos somente com ensino básico a Escola Municipal Sítio Forte, que nasceu Estadual, cumpriu sua missão. Alunos daquela unidade galgaram posições de destaque no continente e os que resistiram às tentações externas saíram do analfabetismo nos bancos da instituição. Pena que o ambiente favorável, criado por ações de Brizola e Darci Ribeiro, não tenha perspectivas de volta. As atividades desenvolvidas nos anos 80 são consideradas ultrapassadas pelos modelos atuais. Enquanto isto o ensino segue rumo ao fundo do poço.
Presente na caravana a Professora Marli que participou da instalação da escola, no final dos anos 70. Os olhos da educadora brilharam ao ver a escola. Uma angústia silenciosa alcança todos e tem origem na certeza de que para ensinar é necessário empatia entre educador e comunidade. Isto, presente em passado recente, sumiu. O cuidado com a escola e a educação geradora de conhecimento a partir dos valores locais deixou de ser realidade.
Por: Ademar Rafael