Diante da nossa mania de apontar o dedo em direção às Câmaras de Vereadores, às Assembleias Legislativas, à Câmara dos Deputados e ao Senado para denegrir a imagem de tais instituições em época de votações de alto interesse do executivo, movidos pelas denúncias de favorecimentos aos parlamentares, nesta penúltima crônica de 2014 convido os internautas para uma reflexão sobre como operam os parlamentos no Brasil e no mundo.
Neste mesmo espaço em 18.03.13 na crônica “O xerife virou inspetor de quarteirão” fiz alusão à forma que ocorreu a votação das propostas do Presidente Abraham Lincoln, conforme cenas do documentário “Lincoln, de 2012”.
Nesta oportunidade transcrevo texto do livro “Como a picaretagem conquistou o mundo – Equívocos da modernidade”, de Francis Wheen. Ao narrar à votação que selou a queda do trabalhista James Callaghan e levou a conservadora Margaret Thatcher ao poder.
Assim escreveu o repórter do Reino Unido: “O debate foi precedido por barganhas febris e, em muitos casos, burlescas. Depois de conquistar os nacionalistas galeses na última hora, mediante a promessa de um novo projeto de compensação para os mineradores de carvão que sofrem de doenças pulmonares… O Ministro do Trabalho, Roy Hattersley, deu a Frank Maguire, deputado independente por Fermanagh e South Tyrone, três garrafas de uísque e a promessa de uma investigação sobre os preços dos alimentos na Irlanda do Norte. Alguns unionistas do Ulster tentaram sem sucesso trocar seus votos pelo compromisso da construção de um dispendioso gasoduto para o gás natural sob o mar da Irlanda”.
Em referida obra Wheen afirma que a Dama de Ferro antes de assumir o posto recitou palavras de São Francisco de Assis oportunas para o momento, segundo seu juízo de valor.
Da forma que na crônica de março de 2013 apresentei dados comprovando que o “mensalão” não foi criação da dupla Marcos Valério e Eduardo Azeredo agora apresento fatos que garantem que a paternidade da politica “dando que se recebe” não é do nosso parlamento, conforme mencionou o Deputado Roberto Cardoso Alves, líder do Centrão na época de Sarney.
Precisamos entender que o parlamento é o universo dos debates, das negociações, dos acordos e das trocas de favores. O problema é que nossos parlamentares, alguma vezes, têm exagerado na dose de favores e as compensações algumas vezes são impublicáveis em ambientes onde a moral se faça presente. Neste momento vamos perdoar nossos “negociadores” e orar para que sejam franciscanos na cobrança da fatura.
Por: Ademar Rafael