Por absoluta falta de adjetivos para qualificar o livro “Cenário de Roedeira”, de Zé Adalberto vou caminhar por um “campo” imaginário que compara a arte do poeta do Juá com uma fruteira que hoje habita nosso estado, especialmente o Vale do São Francisco.
Vamos imaginar que a inspiração ilimitada de Zé Adalberto seja uma videira e que as uvas ali produzidas ofertaram-nos um suco de valor incalculável para alimento da alma em “No caroço do Juá”.
Como é farta a produção outras uvas foram separadas para produzir um vinho raro. Os amantes desta bebida defendem a tese de uma lenda sobre a apreciação do vinho que envolve os cinco sentidos.
Se na lenda ao segurarmos a taça usamos o “tato”, Zé Adalberto entre outros momentos registra nos versos para o tema “O seu rosto me lembra o por do sol”, esta pérola: “… Com a isca de um beijo apaixonado/ consegui lhe fisgar sob um lençol…”, é muito tato.
Segundo a “estória” ao olharmos a cor do vinho fazemos uso da “visão”, neste quesito nosso Zé foi longe em “Mais eu sinto que falta ver ainda”, vejam caros leitores: “… Mais eu sinto que falta ver ainda/Como é que ela faz pra ser mais linda/Quando eu fico pensando que lhe vejo.”.
De acordo com a tese do vinho x sentidos os aromas da bebida acionam nosso “olfato”, ao afirmar “Ela é a razão das razões minhas/A beleza maior do meu retrato/O perfume melhor por meu olfato…” o poeta de Itapetim resgata esta outra dívida.
Para atendermos o “paladar” os amantes da lenda apontam o sabor da bebida e Zé Adalberto encaminha a solução deste problema ao dizer: “… A saliva mais doce da gamela/que engenho do beijo tem moído…”, nada escapa da sua lupa poética.
E a “audição”? Os enófilos asseguram que o som produzido com o contato das taças durante o brinde aguça tal sentido. Aqui Zé Adalberto extrapolou todas as regras ao contar as batidas de um coração que torce pela adversária, vejam: “Esse meu coração só pensa nela/Apesar de bater em meu reduto/Cento e vinte pancadas por minuto/São as vinte pra mim e cem por ela…”.
No livro os também poetas Dedé Monteiro, Ésio Rafael, Alexandre Morais e Genildo Santana, com autoridade, definiram a obra com exemplar clareza. Nesta crônica espero ter despertado os sentidos de cada leitor para leitura de “Cenário do Roedeira”. Zé Adalberto, não é por acaso que você vai do “A” ao “Z”, na forma invertida, és completo amigo.
Por:Ademar Rafael,