Quase dez meses após o assassinato do promotor de Justiça Thiago Faria Soares, de 36 anos, as investigações do crime seguem sem uma definição. A mãe e os irmãos dele prestaram depoimento, no último sábado (26), na 12ª Delegacia do Rio de Janeiro, em Copacabana. Os depoimentos foram solicitados pela Polícia Civil de Pernambuco em janeiro deste ano. Após responder cerca de 30 perguntas em aproximadamente duas horas, o irmão do promotor, o Dj Daniel Faria (foto), quebrou o silêncio sobre o assunto. Ele conversou com exclusividade com a Folha sobre a angústia dos parentes de Thiago na espera por notícias e por uma resolução para o ocorrido. Daniel disse que os familiares não sabem muito sobre as linhas de investigação que vêm sendo conduzidas, mas esperam que a Polícia Federal assuma o caso.
Você prestou depoimento na Delegacia de Copacabana sobre o caso. Foi uma questão de praxe ou tem algum fato novo para as investigações?
Acho que foi realmente uma coisa de praxe porque foi uma solicitação que veio do Recife e, por conta de alguns contratempos, terminou sendo feito somente agora. Perguntaram sobre a vida dele aqui no Rio e outras coisas básicas. A família inteira foi intimada aqui para contar um pouco sobre a vida dele.
O caso aconteceu há quase dez meses e ainda não tem ninguém preso. A única pessoa que foi presa já está solta e não há uma resolução para o assassinato. Como é que vocês, familiares, se sentem com essa demora?
É muito angustiante. De repente, um fantasma passou a aterrorizar a nossa vida. Fomos todos criados com muito amor e carinho. A gente sempre foi muito do bem e acontece uma tragédia dessas na nossa família. Sinceramente, até hoje não dá para entender. O meu irmão não tinha muito esse perfil de promotor de Justiça, mas era o sonho da vida dele. Ele sempre foi criado de uma forma muito caseira, com muito cuidado e eu acho que ele não estava preparado para um mundo desses que ele estava entrando. Vem sendo muito difícil para todo mundo, especialmente para a minha mãe e para o meu pai. A minha mãe envelheceu muito, está muito chorosa, depressiva. E eu sinto muita pena dela e tento estar o máximo de tempo possível perto para dar um carinho e conforto.
Vocês têm contato com os profissionais que trabalham nas investigações em Pernambuco?
Não temos o contato de ninguém. Foi uma coisa que aconteceu muito longe da gente. Não temos ideia do que é que acontece naquela região e acompanhamos as notícias que saem nos jornais e na internet. Eu acho um absurdo em dez meses não ter um inquérito concluído. E nem a gente como familiar tem o direito de saber a linha de investigação que está sendo seguida. Isso torna tudo mais angustiante e difícil. É muito complicado. Eu ainda me sinto de luto. Choro. É difícil.
Por que vocês acham que as investigações estão demorando tanto a serem concluídas?
A única coisa que eu tenho acompanhado é que tem uma divergência entre o Ministério Público e a Polícia Civil. Por mais que eu acredite na idoneidade da Polícia Civil, eu acho que seria bom a Polícia Federal entrar no caso. Até porque foi um pedido do Ministério Público. E o Ministério Público é a instituição em que o meu irmão trabalhava. Então são amigos dele. E eles compartilham sentimento que a gente tem porque são pessoas que estavam ligadas a ele e possuem interesse em ver o fato resolvido. Eu não coloco em suspeita nenhum tipo de linha de investigação. A gente só quer a verdade.
Vocês têm algum contato com a noiva de Thiago, Mysheva Martins?
Com Mysheva a gente não tem contato. Na verdade, recebemos um e-mail de pêsames depois do acontecido e depois não tivemos mais contato com ela.
Antes disso acontecer vocês tinham algum contato com ela?
Na verdade eu tive pouco contato com ela. Foi tudo muito rápido. Se eu não me engano o meu irmão começou a namorá-la em fevereiro. Eles iam se casar em novembro, mas a gente teve apenas um contato presencial quando ela veio aqui com ele para ser apresentada à família. Jantamos juntos, eu, minha mãe, minha irmã e ela, com o meu irmão, e conversamos amenidades. Fora isso e não tive mais contato.
Como Thiago chegou a Pernambuco?
Ele estava quase se formando em Engenharia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) quando assistiu uma aula de Direito, ficou apaixonado e resolveu fazer o curso. Conseguiu concluí-lo na Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). Na época, a nossa família passava por dificuldade financeira, então ele teve que correr atrás de bolsa para o pré-vestibular. Foi com muito esforço mesmo. Ele conheceu uma menina aqui no Rio e resolveu mudar para Recife para casar com ela. Mas, com cerca de um ano eles se separaram. Ele conseguiu chegar onde chegou e é motivo de orgulho para sempre na minha vida. Eu guardo isso no meu coração e na minha pele. Fiz até uma tatuagem para ele com a seguinte frase “Pra quem tem fé, a vida nunca tem fim”. E eu acho que um dia a gente ainda vai se encontrar.
Por: Priscilla Aguiar, da Folha de Pernambuco