Relatos reais.
Na época que trabalhava com o amigo Dimas Mariano de Brito na CRC – Companhia de Revenda e Colonização na loja em frente à Panificadora de Severino Lolô, muitas vezes ouvi conversas do Tenente João Gomes enquanto ele esperava “carro” para Carnaíba.
Referidos diálogos muitas vezes versavam sobre a pesquisa que o Tenente fazia para escrever um livro sobre o cangaço. Eu tinha informação que João Gomes havia perseguido Lampião e seu grupo, Quincas Rafael sempre citava João Gomes e Manoel Neto como valorosos combatentes na guerra contra os cangaceiros.
Recentemente, em visita a São José do Egito, comprei os dois volumes do livro “Lampião – Memórias de um Soldado de Volante”, na livraria Sebo Cultural do poeta Antônio Batista.
Os registros não representam uma apologia ao crime ou uma valorização da ação policial no combate aos crimes praticados pelos seguidores do Capitão Virgulino, são relatos que de forma contundente demonstram a forma primitiva que se davam os combates nas caatingas do sertão.
Encontramos no texto a forma como o Estado tratava a questão, submetendo os sertanejos a uma luta onde a coragem superava as desiguais condições de enfrentamento. A crueldade utilizada por Lampião e sua turma é a mesma que os assaltantes de bancos e traficantes de drogas dos dias atuais aplicam às suas vitimas. Também é igual a impotência do Estado no combate ao crime.
Reconhece o autor que Lampião era dotado de grande habilidade para superar as dificuldades ao desenvolver estratégias de combate muito superiores as das volantes, contando para tal com o irrestrito apoio de “coiteiros”. As barbaridades praticadas nas fazendas, vilas, povoados e cidades do sertão servem para fazermos uma reflexão sobre a brutalidade que os “seres humanos” utilizam para eliminar seus oponentes. O instinto perverso supera, com sobra, os animais irracionais em seus embates.
Padre João Carlos da Acioly Paz, ao prefaciar o livro “Jabitacá, segundo Quincas”, que também aborda assuntos relacionados com o cangaço ensina-nos que não devemos nos levar pelos acontecimentos e sim procurarmos entender o contexto da época.
Tal lógica não nos impede de sonharmos com um mundo onde enredos da espécie sejam extraídos do nosso convívio, contudo, não podemos negá-los. Na época de Lampião, como hoje, a banda podre da sociedade ganha com a violência e as pessoas de bem perdem.
Por: Ademar Rafael