Acorda, Brasil!
Todo ano, salvo algumas exceções, os trabalhadores brasileiros têm reajustes negociados na tentativa de, ao menos, vencerem a corrida contra a inflação. Assim, no papel, nosso salário parece maior, embora mal pague as mesmas contas. Acontece que, na visão do governo, a matemática funciona diferente, e o trabalhador sempre leva a pior. Se não, vejamos:
Aproveitando o seu pronunciamento em cadeia nacional, no último dia de abril, a presidente Dilma Rousseff anunciou um reajuste de 4,5% na tabela do Imposto de Renda para 2015, e o mais curioso é que esse aumento soou como um presente, quando, na verdade, o reajuste só confirma novas perdas para o contribuinte, à medida que não repõe, sequer, a inflação do mesmo período. Dessa forma, equivale dizer que – a cada ano – mais contribuintes pagarão imposto de renda em função do baixo teto de isenção que o percentual alcança.
O mais impressionante é que já estamos tão acostumados com esse tipo de assalto que não esboçamos qualquer reação. Mas, cá entre nós, você já parou para refletir sobre quanto paga de impostos e taxas no seu dia-a-dia?
Vamos aos números: neste ano, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), o brasileiro teve que trabalhar até o dia 31 de maio apenas para pagar os tributos cobrados pelos governos federal, estadual e municipal. A tributação sobre salários, consumo, patrimônio e outras taxas fizeram com que o contribuinte comprometesse 41,3% do seu rendimento bruto.
Comparando a nossa carga tributária com a de outros países, a discrepância beira o absurdo. Por exemplo: o tempo que o brasileiro precisa trabalhar para pagar seus tributos (151 dias) é mais que o dobro do período necessário no México (71 dias).
Segundo o presidente-executivo do IBPT, João Eloi Olenike, em dezenas de países onde a carga tributária é maior do que no Brasil, os cidadãos destinam menos dias de trabalho para o recolhimento de tributos. “O Brasil exige que o cidadão trabalhe mais do que os habitantes de países como a Hungria, onde são necessários 142 dias para o pagamento de impostos; a Alemanha, com 138 dias; e a Bélgica, onde a média é de 102 dias de trabalho”. Um país que se aproxima do Brasil é a Noruega (154 dias). Mas, lá os cidadãos têm qualidade de vida superior à nossa. Em muitos estudos, aliás, a Noruega surge como o país com maior qualidade de vida.
O estudo que serviu de base para esse levantamento considerou os tributos incidentes sobre salários e honorários, os embutidos nos produtos e serviços, os que recaem sobre o patrimônio como: IPTU, IPVA, ITCMD, ITBI e ITR, e as taxas de limpeza pública, coleta de lixo, emissão de documentos, etc. Se formos incluir os gastos com saúde, educação e outros serviços particulares, o brasileiro destinará uma parcela ainda maior de seus rendimentos para compensar a ineficiência do governo.
Dessa forma, caríssimos leitores, já que o país nos impõe uma carga tributária tão penosa, urge que cobremos dos nossos representantes a aplicação dos recursos em prol da sociedade. Não podemos deixar que os governantes pousem de “bons moços”, gastando o que arrecadam ao seu bel prazer e nos passando uma falsa ideia de que há favorecimento quando liberam algum tipo de recurso extra orçamentário. Isso não é bondade; é barganha em troca de votos, e em ano de eleição devemos aumentar ainda mais a nossa vigilância.
Danizete Siqueira de Lima