Reféns do Medo. Até quando?
Cada vez que eu volto a ocupar o espaço do Blog para escrever sobre este assunto, confesso-lhes que me dá um nó na garganta. E não é para menos. Coincidência ou não, há exatamente um ano, eu escrevia uma crônica com o título “Bandido não é torcedor”, abordando a questão da violência no futebol, praticada por bandidos que desfilam travestidos de torcedores em dias de jogos na nossa capital. Na oportunidade, o foco da discussão estava voltado para o torcedor alvirrubro Lucas Lyra, um jovem de apenas 19 anos que quase foi a óbito, em 17/02/2013, em consequência de um tiro dado por um segurança do Sport; em 23/04/2014, fizemos uma outra matéria com o título “Um freio nas organizadas”, tratando da proibição das torcidas organizadas dentro dos estádios em dias de clássicos. Isso após aquela baderna desenfreada entre a Inferno Coral e a Torcida Jovem, em mais um clássico do futebol pernambucano.
Hoje, segunda feira, 12/05, voltamos a falar sobre essa mesma violência, diante do acontecido na primeira sexta feira do mês (02/05), na partida entre Santa Cruz e Paraná, quando um vaso sanitário arremessado de cima das arquibancadas do Arruda pôs fim a mais uma vida.Desta vez, Paulo Ricardo, um jovem de apenas 26 anos, só teve direito a assistir a 40 minutos da partida do último jogo de sua vida. De folga do trabalho, tinha tirado o dia para surfar. Chegou à sua casa à noite. Tinha discutido com a namorada. Tomou banho, jantou e ficou no computador. Terminou convocado por amigos a ajudar a levar faixas da torcida Fúria Independente e tirar fotos. Saiu de repente. Não se despediu do pai. Não tinha comentadocom a namorada. Deixou a moto na Ilha do Retiro e seguiu para o Arruda. Família e amigos só souberam dele depois das 23h. Para ouvirem que havia sido assassinado.
A mãe recebeu a notícia de sua morte quando já era madrugada do sábado. O telefonema veio da delegacia. Com o celular no ouvido, negava o tempo inteiro que fosse a Joelma que a polícia procurava. Insistia que se tratava de outro Paulo Ricardo. Jogou o celular contra a parede ao entender que perdeu o filho. “Não foi uma vida destruída. Foi uma família inteira”, resumiu o tio de Paulo, Laércio Gomes da Silva, 53 anos, pintor. É tricolor, assumiu, envergonhado.
Como bem o disse Carlyle Paes Barreto, do Planeta Bola, em sua matéria de hoje: “A tragédia da Rua das Moças vitimou um membro de uma organizada que nada tinha a ver com o jogo. O que mostra um bastidor cada vez mais complicado, com a organização interestadual, que muitas vezes serve como cortina para ampliar rixas locais. Morreu um rubro-negro. Mas poderia ter sido qualquer um. Tricolor, paranaense, alvirrubro. Um policial que estava a poucos metros do local do crime. Um morador que poderia passar pela rua. Um trabalhador. Um pai de família que sairia pelo fatídico portão 6”.
Como vemos, caríssimos leitores, a guerra continua. E desta vez presenciamos mais um ato selvagem, covarde e, infelizmente, corriqueiro. A presença das gangues vem crescendo,
invadindo os estádios e deixando-nos, todos, reféns da violência. E o que deveria ser uma
opção de lazer popular, passa a ser uma aventura arriscada em que qualquer um poderá ser a próxima vítima.
Em ano de Copa do Mundo e com o Recife sediando alguns jogos, urge que sejam tomadas
providências drásticas e urgentes. Enquanto as punições ficarem restritas a perda de mando de campo, ao faz de conta da proibição das organizadas e ao preenchimento de alguns Boletins de Ocorrências, os bandidos seguirão batendo, saqueando, matando e ditando as suas próprias regras. Até quando?
Danizete Siqueira de Lima