Causou-me indignação e vergonha a forma como alguns pernambucanos agiram no lamentável episódio dos saques e depredações a estabelecimentos comerciais privados, e aos assaltos cometidos contra populares nas vias públicas de Abreu e Lima; logo após a divulgação da greve dos policiais, justamente no dia em que o município completava 32 anos. Será que era esse o presente que a cidade esperava dos seus habitantes?
Parece que gostamos de ser discriminados: taxados de povo menor, de bandidos e perigosos. Infelizmente isso está virando realidade. A poucos dias de sediarmos o maior evento do futebol mundial nos apresentamos perante o mundo inteiro como corruptos, bandidos, assaltantes, criminosos, baderneiros e tantos outros adjetivos depreciativos. “Somos o que queremos ser”.
É com esse “espírito esportivo” que iremos recepcionar os estrangeiros que virão assistir aos jogos da Copa e prestigiar nosso país, que, aliás, está deixando de ser o “País do Futebol” para ganhar outros cognomes que em nada nos engrandece? Quem terá coragem de nos visitar depois de assistir a repugnantes cenas exibidas em horário nobre de televisão, mesmo sem ser novela de ficção? É assim que nos preparamos e nos capacitamos para receber povos de todos os continentes?
O Brasil pode estar preparado para sediar a Copa e receber os turistas, mas nós brasileiros, e nesse episódio específico; alguns pernambucanos, não estão. Diversos países, nesse momento, almejariam estar sediando um evento desse porte, sendo vitrine para o mundo, acolhendo gente de todas as nações, mostrando suas belezas naturais, seus pontos turísticos, gerando emprego e renda, movimentando a rede hoteleira e tantos outros setores. Nós somos privilegiados e estamos desperdiçando a oportunidade de aparecermos bem na fita, pelo menos como um povo ordeiro, alegre, festivo e receptivo. Parece que depois de tudo, isso já não nos pertence mais!
Que País é esse que quando a polícia faz greve, até gente de boa índole, a exemplo de crianças e donas de casa viram assaltantes e bandidas? É lamentável o que está ocorrendo no entorno do Recife. Esse fato nos envergonha, mancha a nossa reputação.
É inconcebível vermos o patrimônio particular sendo depredado, roubado, assaltado. O que os donos de lojas, supermercados e outros estabelecimentos têm a ver com greve de polícia? Qual o mal que eles provocaram para ter os seus estabelecimentos invadidos, dilapidados, surrupiados?
Se sabemos ser solidários durante as secas prolongadas no Sertão, ou durante os temporais e enchentes na Região Metropolitana do Recife, porque não somos nesse momento em que um segmento da sociedade se manifesta e reivindica os seus direitos?
A ocasião faz o ladrão e muita gente aproveitou a ocasião para se revelar à sua maneira. Poderíamos dar exemplo de civilidade, de humanidade e solidariedade, mas preferimos protagonizar o papel de malfeitores e ladrões; quem sabe, baseado nos filmes e novelas exibidas na TV brasileira, que tanta gente idolatra.
Desculpem-me os conterrâneos, mas hoje eu amanheci sem nenhum “Orgulho de ser
Pernambucano”.
Paulo Robério Rafael Marques
Professor e hoje, mais do que nunca, pajeuzeiro.
Petrolina – 15.05.2014