A audiência pública que deveria olhar com lupa o desempenho das finanças do Estado no ano passado, foi, na prática, uma ode ao secretário da Fazenda e pré-candidato ao governo, Paulo Câmara (PSB). Nenhum membro da sociedade civil compareceu. A oposição não deu ar da graça. Abriram caminho para a bancada governista dominar a prestação de contas convocada pela Comissão de Finanças, Orçamento e Tributação. Mas, em vez de analisar a arrecadação, debater o endividamento ou esmiuçar o investimento, a bancada preferiu externar a “saudade” que Câmara vai deixar. Depois do encontro “técnico”, o secretário ainda foi recebido em um almoço na sala privativa dos deputados, conhecida como “buraco frio”.
O presidente da Comissão, o deputado Clodoaldo Magalhães (PSB) iniciou os elogios mais rasgados. “Se fosse possível fotografar uma palavra, que vai ganhar as ruas, chama-se humildade”, pinçou para definir o secretário, reforçando que a “experiência foi incrível” de debater com Câmara nos últimos três anos. Henrique Queiroz (PR) enalteceu o pré-candidato como “atencioso, que retorna ligação”.
Zé Maurício (PP), membro de um partido que pleiteia candidatura própria para o governo, disse ter consultado o dicionário para sintetizar Câmara com a palavra “simplicidade”. Tony Gel (PMDB), Waldemar Borges (PSB), Diogo Moraes (PSB), Laura Gomes (PSB) e Ângelo Ferreira (PSB) também se alistaram para louvar o secretário.
“Se a gestão de Vossa Excelência à frente da Secretaria da Fazenda não fosse capacitada, esta audiência pública estaria repleta de membros da bancada de oposição e repleta de pessoas da sociedade fazendo críticas, cobranças. As ausências são um sintoma. Não é jogando louro no nosso governo. É reconhecendo seu dinamismo, sua gestão”, derramou-se Isaltino Nascimento (PSB).
Os afagos acabaram atrapalhando a apresentação do balanço que, tecnicamente, é o melhor assinado por Câmara no comando do cofre estadual. No seu primeiro ano como secretário da Fazenda, 2011, as contas fecharam no vermelho e foi preciso usar recursos da poupança do Estado para fechar o ano. Em 2012, os gastos com pessoal atingiram comprometimento recorde na gestão Eduardo Campos e acenderam a luz amarela.
Ano passado, o investimento foi recorde (R$ 3,7 bilhões). O Estado captou mais recursos de empréstimos (25,7% de alta) e via convênios com a União (20,6% a mais). E domou as despesas com pessoal e o chamado “gasto ruim” – com o dia a dia da máquina pública (que só cresceu 4,4%).