No Dia Internacional dos Direitos Humanos, o governador Eduardo Campos recebeu documentos coletados pela Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC), trazendo à tona verdades históricas acerca de episódios marcantes ocorridos no Estado durante a Ditadura Militar. “São verdades que se sabem, mas que não se comprovavam. E mentiras que sabíamos que eram mentiras e que precisávamos comprová-las como tal”, afirmou Eduardo, durante solenidade realizada na Sede Provisória do Palácio do Governo, no Centro de Convenções.
Os documentos da CEMVDHC desmentem versões até então tidas como oficiais: a incriminação do ex-deputado federal Ricardo Zarattini e do professor Edinaldo Miranda no caso da bomba colocada no Aeroporto dos Guararapes, e a causa morte do estudante de agronomia, Odijas Carvalho de Souza. “Hoje, há exatos 65 anos da declaração dos direitos humanos universais, estamos aqui para reforçarmos os compromissos com a democracia. No Estado, estamos trabalhando num processo de busca que nos permite fazer o reconhecimento e restabelecimento da verdade em fatos ocorridos durante o regime de exceção”, sublinhou Eduardo.
Odijas morreu em 8 de fevereiro de 1971. O caso dele é um dos 51 que compõem a lista preliminar de mortos e desaparecidos políticos pernambucanos e que são alvo de análise da CEMVDHC. Presente ao ato, o ex-deputado federal Ricardo Zarattini – único representante vivo do grupo – convocou todos os presentes para prestarem uma homenagem ao companheiro de militância Odijas, em forma de tributo às vítimas assassinadas durante o regime de exceção. “Odijas, presente! Viva Odijas e viva a todos os nossos companheiros”, bradou.
Das mãos do governador, Maria Yvone Loureiro, a viúva de Odijas, recebeu a certidão de óbito retificada com a verdadeira causa de morte do jovem militante: homicídio por lesões corporais múltiplas, decorrentes de atos de tortura. “Odijas teve a vida ceifada de forma covarde e cruel. Desde que soube da sua morte, fiz diversas denúncias, greve de fome. Hoje, enfim vejo a justiça ser feita por um governo disposto a jogar luz sobre os escombros da ditadura”, agradeceu Maria Yvone.
Filha de Edinaldo, Emília Miranda citou um trecho da música de Caetano Veloso, usada pelo pai quando, pela primeira vez, a imprensa noticiara uma nova versão do episódio no qual era considerado culpado. “Em 1995, ele ficou extremamente feliz com uma reportagem que o inocentava, e escreveu atrás do recorte do jornal: ‘é impressionante a força que as coisas têm quando elas têm que acontecer'”, revelou, emocionada. “É uma emoção profunda receber este documento aqui hoje, porque minha vida foi muito marcada por essa história”.