A lentidão na abertura dos canais de transposição do rio São Francisco causou prejuízo a empresários de cidades que tiveram a economia aquecida pela migração de milhares de trabalhadores no auge das obras, de 2007 a 2011.
Reportagem da Folha publicada há duas semanas mostrou que as obras, após meses de paralisação, estão sendo retomadas aos poucos. No trajeto, há concreto rachado, remendos e mato alto.
Nesses municípios, empresários investiram em negócios, como restaurantes e hotéis, confiando na manutenção do ritmo das obras e na mudança da realidade local graças à oferta de água.
Nenhum deles esperava, no entanto, que as obras seriam paralisadas tão rapidamente e por tanto tempo. Em alguns lugares, o serviço ficou parado por mais de ano.
As obras dos dois canais da transposição começaram em 2007 e deveriam ter acabado no ano passado. O governo federal afirma que concluirá o serviço em 2015.
Projetos básicos imprecisos exigiram a realização de novas licitações, renegociação de contratos e interrupção do serviço por parte das empreiteiras. Os únicos trechos prontos são dois lotes realizados pelo Exército.
Quando prontos, os canais levarão água do rio São Francisco a quatro Estados (Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte).
Em Custódia (PE), José Pedro de Melo, 58, tinha 15 quartos em seu hotel. Investiu R$ 3 milhões, chegou a 97 apartamentos, construiu cozinha industrial, padaria e uma venda. Hoje, só consegue ocupar 50% de seu empreendimento. Parte da clientela são romeiros com destino a Juazeiro do Norte (CE).
Pelas ruas de Custódia, placas de “aluga-se” preenchem postes e fachadas. A prefeitura estima em 300 os imóveis fechados sem que os donos consigam alugá-los.
A comerciante Solange Santana, 43, mudou-se para um imóvel menor para alugar por R$ 1.500 a casa mobiliada de quatro quartos. “Não consigo alugar. Estou tendo dificuldade porque as pessoas saíram [da cidade].”
A arrecadação de ISS no município atingiu R$ 11 milhões no auge das obras. Agora não chega a R$ 100 mil. Na prefeitura, cerca de 300 funcionários foram demitidos.
Em Floresta (PE), a administração também cogita demitir e reduzir salários. O Ministério da Integração Nacional diz estar retomando as obras, e que isso deve reaquecer as economias locais.
Quem perdeu o emprego com a paralisação também tenta retomar a carteira assinada nos canteiros de obras.
RETOMADA
O encarregado de concretagem Nivaldo de Santana, 41, trabalhou na transposição em Sertânia (PE) de 2009 a 2012. Sem emprego, mudou-se para São Paulo. Viu na retomada das obras a oportunidade de voltar para casa.
“Trabalhar aqui é melhor porque fico com minha família”, disse Santana, ao lado de outras cerca de 50 pessoas que aguardavam, sob o sol, a oportunidade de tentar uma vaga na retomada de um dos eixos da obra.(Folha de São Paulo)