Noites sem dormir, falta de apetite, sintomas de depressão. Uma das quatro funcionárias do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) que acusam a juíza Andréa Calado, da Vara da Infância e Juventude de Olinda, de assédio moral, conta que vive uma rotina de desconforto, que só aumenta desde que as denúncias contra a magistrada ganharam repercussão nacional. A jovem resolveu conversar com o Diario pela primeira vez sobre o caso. As demais funcionárias já estão afastadas por determinação médica e ela é mais uma a pedir afastamento com a mesma justificativa, depois de ser orientada pelo advogado Sávio Delano, do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário de Pernambuco. Ela pede para não ser identificada na entrevista por medo de represálias.A Corregedoria Geral de Justiça está investigando o caso.
Você falou que a presença de seguranças da juíza no local de trabalho intimida as funcionárias. Por quê?
Ao todo, quatro homens à paisana acompanham a juíza de casa até o fórum. Não sei se são policiais. Eles ficam intimidando na sala, encarando alguns, ou espalhados pelo fórum. Penso que é para ouvir as conversas e saber com quem as funcionárias estão mantendo contato. A juíza chegou a comentar que queria saber quem era que estava passando informação para as promotoras. Acha que tem alguém infiltrado entre nós.
Além dessa presença de seguranças, o que mais lhe incomoda?
Ela costuma falar que eu não cumpro prazos processuais, que não tenho inteligência emocional. Exige o tempo inteiro prazos exíguos e sobrecarrega a gente de atividades. Com ela, não tenho hora certa para sair do trabalho. Além disso, ela nos trata com muita rispidez. O objetivo dela é desestabilizar o funcionário emocionalmente e fazê-lo um desacreditado. Por exemplo, quando me visto bem, ela diz: você está mal intencionada. Como se somente ela pudesse se vestir bem.
Você disse que foi ameaçada pela juíza de ser devolvida. Como isso acontece?
Uma vez, em uma reunião, ela disse que minha produção estava boa e que iria fazer um pedido de devolução para aumentar ainda mais a produtividade. Como se eu funcionasse na pressão.
Por que você resolveu quebrar o silêncio?
Depois da terceira vez que ela me ameaçou de devolução, decidi entrar com um termo de assédio moral.
Você presenciou alguma irregularidade no processo de adoção da criança de um ano?
O processo deveria passar por mim, mas não passou. Outro dia, ela pediu para eu bater um novo termo de guarda e falsificar a data, colocando a data retroativa do primeiro.