O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta segunda-feira que a presidente Dilma Rousseff decidiu tardiamente convidar a oposição para dialogar sobre as manifestações sociais nas ruas e a sugestão de um plebiscito para reforma política.
Ela devia ter chamado a oposição antes para conversar. Agora é tarde – afirmou FH, em entrevista, ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
Principais partidos da oposição, PSDB e DEM se recusaram a participar de uma reunião nesta segunda-feira com Dilma. Somente o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) compareceu. A oposição acusa não haver no governo uma disposição verdadeira para buscar uma solução conjunta para os problemas colocados pelos protestos nas ruas, mas apenas um jogo de cena.
Por mais de uma vez, FH apontou como um erro da presidente neste momento a “falta de diálogo”.
Acho que faltou conversar com o país e não, o que é a moda hoje, ler um texto de marqueteiro na televisão – disse o líder tucano, referindo-se ao pronunciamento de Dilma em rede nacional logo no início dos protestos.
Na crise do apagão no meu governo, eu chamei todo mundo, a oposição também, e criei um gabinete de crise para discutir verdadeiramente – completou.
O tema voltou a ser abordado por ele quando perguntado qual conselho daria para Dilma para enfrentar a atual crise.
Eu diria converse um pouco mais, porque o poder afasta. As pessoas não dizem com sinceridade o que pensam (a um presidente). Você é que tem que permitir isso. Eu diria ouça mais. As decisões são solitárias na vida de um presidente e têm que ser assim. Por isso, tem que ouvir muito antes.
Defensor do voto distrital, o ex-presidente disse que não considera uma reforma política a solução para todas as reivindicações feitas por manifestantes nas últimas semanas.
Povo quer melhorias para vida cotidiana. Não vai se resolver a questão só com isso (reforma política).
Ao criticar a proposta sugerida por Dilma de realização de uma reforma política por meio de uma Constituinte exclusiva, FH fez um mea-culpa. Em 1998, ele defendeu o mesmo instrumento para as reformas tributária, judiciária e política, mas sem sucesso.
Provavelmente eu errei no passado. Não tinha essa noção (de que não era o instrumento jurídico mais adequado) – afirmou.