Arena Pernambuco, eu já sabia.
Usando o Facebook, um torcedor que mal conseguiu chegar à Arena Pernambuco para assistir ao jogo entre Espanha e Uruguai, escreveu: “Não entendo o espanto para uma situação que já havia sido desenhada no primeiro jogo teste, entre Náutico e Sporting. Vai ser diferente na Copa do Mundo? Não… A maquiagem está aí. Esse é o país do futebol”.
Talvez nem mesmo o mais cético dos críticos imaginasse que o primeiro jogo “valendo” da Arena PE fosse do jeito que foi. E foi todo muito ruim na opinião unânime de jornalistas, jogadores e treinadores (particularmente os do Uruguai), e, o mais importante, do torcedor que acreditou que estivéssemos minimamente preparados. Não estávamos, e o caos, na ida e na volta, foi total. Falhou o esquema de transporte, base para que pouca coisa passasse a dar certo.
As reclamações não foram poucas e as mais constantes referiam-se à mobilidade. Pessoas contam que eram tratadas como “gado” ao término da partida, no caminho entre a Arena e a estação Cosme e Damião. Alguns torcedores, que gastaram ao todo seis horas no percurso de ida e volta, não querem repetir a experiência. A beleza do estádio é apagada diante da falta de estrutura, da desorganização generalizada e da falta de educação das pessoas.
O mais curioso é que apesar da via-crúcis enfrentada pelos torcedores na chegada e saída da Arena no domingo à noite (16.06), o Secretário-extraordinário da copa, Ricardo Leitão, deu nota 08 ao plano de mobilidade desenvolvido pelo governo do Estado. É compreensível o comportamento do secretário em negar os problemas que o torcedor enfrentou. Está no contracheque e ele está lá para isso mesmo: negar. Até porque admitir seria reconhecer que o conceito desenhado para os jogos da copa não funciona. Mas isso não é importante. Ninguém está mesmo interessado no que diz o secretário publicamente.
O que importa é que lições, internamente, o governo e o Consórcio Arena Pernambuco vão tirar a respeito do modelo desenhado para a Copa das Confederações. E o que isso representa na cabeça do cidadão. Porque a trágica experiência vivida no domingo pode levar a sociedade a ver a Arena com antipatia e deixar de prestigiar futuros jogos ali realizados.
O governo do estado, através do secretário Ricardo Leitão (SECOPA), culpou a FIFA e a CBTU. A CBTU culpou a bagunça dos ônibus pela superlotação de metrôs e esse jogo de empurrar a responsabilidade de um para o outro em nada contribui. A verdade é que a Estação Cosme e Damião, recomendada pelo Governo, não tem a menor condição de atender, nessas circunstâncias, uma demanda de 40.000 torcedores.
Além dela não ter sido desenhada para esse fim, não lhe pode ser atribuída a responsabilidade de escoar em pouco tempo a saída do estádio inteiro. Afinal, ainda que os trens saíssem a cada 03 minutos (cada um deles com mil pessoas) seriam necessárias duas horas para retirar todos os passageiros. Portanto, a questão não se resume ao metrô. O governo tem que enfrentar isso. Mas ver o problema mirando o futuro. E ter presente que será necessário incorporar outros modais, não para a Copa, mas para funcionamento do negócio Arena, pois, sozinha, a Estação Cosme e Damião será insuficiente para receber e escoar grandes públicos que por ali passarão em um futuro bem próximo.
O pior de tudo isso é que o que era apenas do conhecimento da população do Grande Recife, agora ganhou notoriedade internacional: a dificuldade de deslocamento e a deficiência do nosso transporte público. Muitas críticas poderiam ter sido evitadas se a prefeitura e o governo do estado tivessem dado ouvidos aos reclames da população. Afinal, se os usuários do metrô mal conseguem embarcar num trem na hora do rush, como 40 mil pessoas “extras” conseguiriam seguir, sem transtornos, para a Arena Pernambuco?
Algumas atitudes (ou a falta delas) das autoridades na organização da Copa das Confederações foram incompreensíveis. Uma delas foi colocar quase toda a responsabilidade pelo transporte no metrô. Por que o Grande Recife Consórcio não criou linhas especiais de ônibus para transportar torcedores direto para a Arena, saindo de vários pontos da Região Metropolitana?
Se nem para impressionar estrangeiros, prefeitura e governo taparam os buracos da estrada por onde a seleção uruguaia chegaria ao CT do Sport, na Guarabira, imaginem se terão disposição de cuidar da cidade para os seus próprios moradores!
A Arena Pernambuco é, sem dúvida, um dos mais belos dos estádios construídos para essa Copa de 2014. Mas, não se basta. Precisa de toda uma infraestrutura de mobilidade e segurança que, para alcançar o mínimo, ainda falta muito. Para ver Espanha x Uruguai, em jogo oficial pela Copa das Confederações, muita gente penou, mas foi. Para ver Náutico e Ypiranga, sei não hein!
Por: Danizete Siqueira de Lima