Home » Crônicas de Ademar Rafael » CRÔNICA DO ADEMAR RAFAEL

CRÔNICA DO ADEMAR RAFAEL

A ceva e a cultura, tudo haver?
O ribeirinho da Amazônia sabe corretamente onde ficam os pontos mais frequentados pelos peixes da região. Os locais e os horários melhores para fisgar um piau ou um tucunaré são reserva de mercado dos moradores da região.
Mas, ao receberem uma comitiva de pescadores não se incomodam em levá-los aos locais onde colocoram as cevas dos piaus e os trechos por onde os tucunarés costumam “passear”. Não ficam com as informações retidas por egoísmo. Algumas vezes deixam que os visitantes fiquem tentando pegar um piau fora de hora ou perder iscas de tucunarés em situações adversas.
O educador com “E” maiúsculo também sabe onde fisgar informações de extrema importância para o aprendizado e não esconde isto dos seus alunos, pelo contrário incentiva a busca permanente de tais registros para ampliação saberes.
Com estes dois fundamentos nasce esta crônica, contudo seu foco é na direção de dois programas televisivos que classifico como verdadeiras reservas. Ambos aos domingos, um na sequência do outro na TV Cultura. O primeiro é “Viola minha viola”, com Inezita Barroso e o segundo “Sr. Brasil”, com Rolando Boldrin. Quem joga seus anzóis e seus olhares para estes programas com certeza encontrará peixes culturais fartos e conteúdos lastreados em rica cultura.
É possível que alguém possa dizer são programas muitos “caipiras” é neste ponto que encontramos o diferencial. A música e a poesia são produtos que depois de concebidos ganham o mundo, mesmo estando fincadas em certas regiões correm espalhando sua infinda essência.
Quando morei no Mato Grosso do Sul gostava de frequentar uma Churrascaria de Campo Grande onde um conjunto regional apresentava polcas, vanerões e outros ritmos da região. Sempre que possível fazia pedidos de músicas nordestinas e era prontamente atendido. Luiz Gonzaga, Fagner, Alceu Valença e Zé Ramalho eram tocados com intensidade.
Certa vez às margens do Rio Apa, em Bela Vista – MS ouvi de um violeiro local a seguinte sentença: “Bichinho – era assim que eles me tratavam -, uma música pode até ter raiz o problema é que quando nasce deixa de pertencer ao local onde foi produzida ela passa a ser de domínio público”.
Isto fez com que eu passasse a ter outra visão sobre as produções regionais. Gonzagão, Noel Rosa e Gaúcho da Fronteira, dentre outros jamais podem ser lidos e ouvidos com artistas regionais, são entes culturais do mundo. Respeito às opiniões contrárias e mantenho a indicação dos dois programas. Curtam e procedam como os ribeirinhos e os educadores, não escondam.
Por Ademar Rafael

Inscrever-se
Notificar de

0 Comentários
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários