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CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

Ai que saudades que tenho…
Fui um sortudo ao nascer (1957) no Pajeú, ter morado (1982-1992) no Cariri do Ceará e voltado ao Pajeú (1992). Períodos que pude me divertir e como me diverti nas festas de Santo Antônio, São João, São Pedro, Missa do Vaqueiro e tantas outras manifestações folclóricas com traços profanos e religiosos.
O trabalho fez de mim um retirante, as passagens pelo Pará, por Minas Gerais e pela Bahia tiraram-me o direito de participar em referidas festas. Na Bahia havia um meio termo, nos demais estados nem isto.
Quando entra o mês junho aparece a doença tão bem cantada pelo poeta Antônio Pereira de Itapetim, a danada da saudade. Para combater utilizo muita música e poesia de autores que fazem do ciclo junino a base de sua obra, base porque não há limite na criação do sertanejo, o sofrimento faz dele um ser sobrenatural. É assim defino nossos expoentes culturais.
Chico Arruda, Val Patriota, Bia Marinho, Lostiba, Flávio José, Maria da Paz, Diomedes Mariano, Manoel Filó, João Paraibano, Alexandre Morais e tantos outros produzem os remédios usados para minimizar os efeitos da saudade.
Desconfio que a mesma força que atrai a tartaruga para praia onde nasceu também atrai os seres humanos para seu torrão depois de certo tempo fora, negar isto é impossível. Sem a rapidez da saída, estou começando a arrumar as malas até porque no caminho da volta ninguém se perde.
Você que permaneceu na região, não se deixou a atrair por oportunidades externa parabéns. Minha opção tinha preços a serem pagos. A dívida será resgatada em breve.
A cada ano vejo mais perto a hora voltar ao nordeste, minha missão fora do meu “roçado” está perto do fim, tenho muito para aproveitar perto do meu povo. Pouco tenho a reclamar, fui e sou muito bem tratado, especialmente em Marabá onde resido, aqui tenho amigos para toda hora. 
Esta certeza da volta próxima tem feito com que a saudade mantenha-se em níveis suportáveis pelo coração de menino das Varas de Quincas Flor, os estragos têm sido absorvidos pelo organismo do caboclo tão sonhador como o criado por Maciel Melo, conterrâneo que colabora muito no tratamento da doença que insiste em ser mais aguda no mês das festas juninas.
Neste período o nordeste fica mais alegre, as dificuldades trazidas pela estiagem muitas vezes reduz o tamanho das festas jamais interfere na alegria de um povo que pode ser rústico como a casca do angico, duro como miolo da baraúna, mas também é receptivo como o colo de uma mãe e tão natural como o cheiro da umburana.
Por: Ademar Rafael

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