Capital, a grande jogada.
Na década de 80, em Barbalha no Ceará, um grande comerciante daquela região disse-me em conversa informal que não havia juros caros havia sim negócios mal arquitetados e com geração de riqueza em escala inferior aos investimentos.
Com o tempo, diante do crescimento das minhas responsabilidades no Banco do Brasil e na iniciativa privada, descobri que o barbalhense tinha razão. Enquanto defensor da corrente desenvolvimentista que estimula a produção, com inserção ao consumo, distribuição de renda e proteção da espiral que gera riqueza permanente, vejo preocupado a especulação sugar a capacidade produtiva de muitas empresas e países.
O capital sem fronteiras, dependendo do local em que está sendo movimentado, pode tomar o café da manhã na Europa, almoçar na América e jantar na Ásia. Um “enter” de um analista de mercado, famoso agiota cibernético, é mais importante que a produção.
Para ter uma ideia do estrago, no início dos anos 80 o PIB mundial era de US$ 10 trilhões e a soma dos ativos financeiros representava US$ 12 trilhões, em plena crise de 2008 o PIB do mundo estava orçado em US$ 50 trilhões e os ativos financeiros alcançava a marca de US$ 300 trilhões. Isto é a riqueza cresceu cinco vezes e a especulação cresceu 25 vezes. A ditadura financeira esmaga projetos de países e a aproxima de zero a autonomia das nações. A roleta russa do capital segue o caminho da destruição em massa.
No Brasil a gangorra da Bolsa de Valores e as aventuras de investidores estilo Eike Batista têm causado muitos danos à economia nacional e independência financeira de “sócios” amadores. As empresas do Grupo “X” chegaram a ser avaliadas em trono de R$ 100 bilhões, hoje estão valendo de 15 a 20 por cento daquele valor. A perda ficará para os compradores das suas ações e para o governo via BNDES uma vez que os recursos do especulador estarão muito bem protegidos. Esta é a regra, os amadores geram as riquezas dos profissionais da engenharia financeira especulativa.
Ativos da VALE e PETROBRÁS estão de ladeira abaixo, os arranjos especulativos e os investimentos em áreas com retorno abaixo do esperado são os agentes motivadores.
O mundo a cada dia fica mais ficção e menos realidade. As crises da Europa e dos Estados Unidos derivam da negligência e da omissão de gestores das nações envolvidas, muitos deles com os pés e as mãos no mercado de capitais. Silvio Berlusconi, que mandou na Itália por muitos anos,dá sustentação a esta afirmativa. Capital especulativo extermina a capacidade produtiva das nações. O dia da China chegará, é uma questão de tempo.
Por: Ademar Rafael