Quanto custa uma vida?
Defendo a tese que a vida de um ser humano jamais pode ser avaliada em função de idade, grau de instrução, local de nascimento ou outra classificação qualquer. É uma a vida e ponto. O responsável pela extinção de uma vida não pode ficar impune. No entanto, não é o que ocorre na prática. Vejamos os casos a seguir.
Os pilotos americanos que por irresponsabilidade amplamente comprovada nos autos causaram a morte de 156 pessoas no dia 29.09.2006 ao receberem os benefícios das leis jogaram o valor das vidas ceifadas nas lixeiras dos tribunais. A pena de três anos, um mês e dez dias, em regime aberto, arbitrada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, lavrada em outubro de 2012 pode ter amparo jurídico, mas, também é baseada em princípios que prefiro não comentar.
A falta de acionamento do sistema anticolisão deve ter ficado pelo tortuoso caminho que as provas percorrem ao serem questionadas por uma defesa bem remunerada e sucumbiu na submissão que historicamente o Brasil teima em manter na relação que mantém com a pátria dos pilotos Jan Paul Paladino e Joseph Lepore.
De forma diferente agiu a Bolívia no tocante aos brasileiros retidos no país vizinho, em função do acidente ocorrido no jogo Corinthians e San Jose, na cidade de Oruro em 20.02.13. Neste caso as autoridades bolivianas afirmaram que o depoimento em que um jovem no Brasil assumiu a autoria do disparo do sinalizador não tem validade por ter corrido no território brasileiro e mantiveram os brasileiros presos.
Se a justiça brasileira tivesse agido da mesma forma que justiça boliviana agiu, no caso dos pilotos americanos, é possível que os “ex-donos do mundo” jamais acatariam. Um cidadão americano vale muito mais que o habitante de outra nação, pelo menos na cabeça deles.
A frouxidão brasileira e o rigor boliviano transitam em direções opostas, as legislações são diferentes, no entanto, o que fez a diferença não foram as leis e sim a atitude de quem deveria zelar pelo seu povo.
A banalização do crime no Brasil está criando um pântano que avança em rota divergente da lógica e do bom senso, esmagando-os.As famílias que perderam seus entes queridos no acidente da Gol jamais se conformarão com o julgamento, principalmente por terem a certeza que em caso inverso o resultado seria muito diferente.
Não há meio para concordarmos com a forma que justiça brasileira tem tratado os criminosos. Sem uma mudança de comportamento o Brasil ficará por muitas gerações com o título de “nação da impunidade”.
Por: Ademar Rafael