Da janela do metrô
Em viagem para participar de encontro das famílias Filomeno, Menezes e Bernardo na cidade de Tuparetama pernoitei em Recife no dia 28.03.13. Na manhã do dia seguinte peguei o metrô na Estação Shopping, ao lado do Geraldão com destino ao Terminal Rodoviário de Recife – TIP.
Até a Estação Largo da Paz foi possível ver quanto nossa capital foi agredida pela ocupação desordenada. São prédios magistrais ao lado de residências simples numa estética criada e mantida pela especulação imobiliária. Sebastião Dias, atual prefeito de Tabira, certa vez falando sobre o pavão disse: “… e a beleza das penas, não encobre as pernas feias.” Isto vale para referido cenário. A ostentação presente em alguns edifícios não faz desaparecer a simplicidade de outros. Este mosaico faz parte das grandes cidades, Recife apenas segue o modelo.
No trajeto entre as estações Joana Bezerra e Afogados notei que o programa “Minha casa minha vida” tem muito espaço para ocupar. A ordem pode até ser invertida, em ambiente de pobreza extrema a vida digna antecipa-se à moradia.
No trecho Ipiranga/Rodoviária encontrei vastas áreas com matagais, verdadeiras comunidades urbanas com cara do interior. Espaço muitas vezes maior do que a famosa Floresta Negra da Alemanha, lá seria tratado como “imensa floresta”, nós o percebemos de outra forma. Quem possui a Amazônia áreas deste tipo não passam de “lotes com matagal”.
As mangueiras, os coqueirais e os cajueiros circundados por residências de alvenaria, madeira, flandres e papelões remetem nossa atenção para um mundo diferente. A música “Gente humilde” traça o perfil dos habitantes destas localidades. Como é bom sabermos que o Brasil da Avenida Paulista, da Avenida Vieira Souto e da Avenida Boa Viagem convive com agrupamentos urbanos desprovidos de requinte, porém, cheios de outros atrativos.
A viagem de metrô, cortado a cidade de Recife, para este catingueiro residente em Marabá funcionou como um colírio que deu clareza aos olhos para fazer uma releitura da Veneza brasileira. A distância muitas vezes provoca um afastamento das nossas raízes e o reencontro é salutar, devolve-nos a certeza que não pertencemos ao universo onde moramos, estamos ali emprestados.
Os nomes Barro, Tejipió, Alto do Céu e Curado ao serem lidos no vagão e nas estações fazia o nordestino voltar para seu mundo, é possível viver fora do nosso torrão, contudo, ao pisarmos na terra natal somos revestidos por um imã que nos prende ao chão e munidos de uma voz interior que grita: “Vale a pena ser nordestino, pernambucano e sertanejo”.
Por: Ademar Rafael