Quinto Pajeú em poesia.
Sempre que lia sobre as versões anteriores eu imaginava tratar-se de uma tertúlia poética onde vates se encontravam para apresentar suas obras e obras de outros poetas.
Quando cheguei ao local do evento percebi que estava errado. Trata-se de um espetáculo digno de um Teatro da Paz em Belém do Pará, Teatro José de Alencar em Fortaleza, Teatro Municipal do Rio de Janeiro e tantos outros espalhados pelo Brasil. Alexandre deve pensar na hipótese de replicá-lo fora
do Pajeú, tenho certeza que os amantes da poesia merecem isto.
Ao ver as apresentações dos poetas mirins Samuel e João e do veterano Chico Pedrosa, intercaladas por vozes femininas tive a sensação que as folhas da “baraúna” de Cancão estavam espalhadas pelo ambiente. As meninas fizeram Cora Coralina levantar-se do túmulo e sair pulando pelas ruas de Goiás Velho.
A mesa de glosas merece destaque especial. É um campo movediço onde a viola que tem a capacidade de “esconder” uma métrica imperfeita não está presente. Naquele território o poeta está sozinho com sua musa, em sua frente o mote, os demais poetas e uma plateia que entende do que eles estão falando. É o que costumamos chamar de chapa quente. A suave condução dos trabalhos por Dedé Monteiro é outro fator a ser destacado.
A homenagem a João Paraibano fala por si só, não carece de muito “leriado”. Foi muito bom ver a viola de Sebastião Dias, que o povo de Tabira não deixou ser queimada na Praça Gonçalo Gomes, afinada como o voz do dono. Ele e João deram um passeio pela estrada espinhosa que a dupla percorreu no início. Os demais cantadores capitaneados pelos irmãos Pereira e por
Diomedes Mariano fizeram um coral de versos jamais vista em outra terra.
A premonição de Rogaciano Leite sobre as “almas são todas de cantadores” é tão real quando o calor do sertão. O conteúdo deste evento merece ser editado e levado ao mundo, não tenho dúvida que espaços como os da TV Cultura serão receptivos a ideia da sua divulgação. Pode até ser difícil impossível jamais.
Amigo Alexandre Morais não permita que o resto do Brasil permaneça privado de conhecer a marca “Pajeú em Poesias”. Seja audacioso nessa missão da mesma forma que você é na mesa de glosa, as dificuldades serão minimizadas.
Pense grande, faça contatos com os amantes da poesia no Rio Grande de Sul. Daquele lado existem mesas de glosa com outra configuração. O campo é fértil pode plantar que a colheita será farta.
Por: Ademar Rafael