A SECA NORDESTINA – O FILME QUE NINGUÉM QUER ASSISTIR
As crônicas que são feitas abordando esse tema, são as repetições mais constantes da história do Brasil, tão exposta e tão detalhada que deixou de assombrar, sem nunca deixar de escandalizar pela impotência nacional diante de tragédias repetidas.
Os relatos vêm do século 16, repetem-se nos séculos seguintes, até a grande seca de 1877/78, da qual brotaram incontáveis relatórios e reproduziram-se práticas de socorro aos flagelados que o paraibano Epitácio Pessoa condenava em 1891 e que continuaram no século 20, com réplica das tragédias anteriores, até chegarem à monumental seca de 1958 que levaria à criação da SUDENE. E tudo continuou como dantes.
Por isso sempre deve ser motivo de uma rigorosa análise crítica tudo que se diz ou se faz em relação a esses períodos que não são mais mistérios para nínguem, têm calendário preciso, cientificamente detalhado e, mesmo assim, instalam-se entre nós como grandes calamidades. Tão grandes quanto a retórica repetida do poder, anunciando medidas emergenciais.
Na última reunião da Sudene, realizada em Salvador-BA, a presidente Dilma Rousseff compareceu e anunciou a liberação de 1,8 bilhão destinados às vítimas da seca, que atinge todos os estados do Nordeste. Essa verba contempla a construção de 77 obras de prevenção, como a construção de barragens e adutoras. Ao mesmo tempo, a presidente confirmou o lançamento do Programa de Irrigação do Nordeste.
Alguém medianamente informado vê algo diferente nisso tudo?
Se vivêssemos em um País sério, a tão propalada transposição do Rio São Francisco (que está totalmente paralisada) e que levaria água para 12 milhões de nordestinos – conforme o projeto faz referência -, estaria concluída ou – pelo menos-, em fase de conclusão e esses 2 bilhões aproximadamente de recursos que logo vão ser jogados fora seriam melhor aproveitados.
Se tivéssemos abraçado essa causa com o mesmo afinco que abraçamos os trabalhos para a realização da Copa de 2014 a conversa seria outra, muito embora, a obra que está sendo tratada com descaso iria render bem mais dividendos que a outra, pois estamos tratando de “gente” e não de preocupação com status. Seria uma excelente oportunidade de diminuirmos o nosso déficit social, para com essa gente tão sofrida.
De que vale sediarmos uma Copa, tentando nos mostrar para o mundo, enquanto assistimos o nosso rebanho bovino ser dizimado em 850 milhões de cabeças (como se estivéssemos em uma guerra) e o nosso humilde sertanejo, de mãos atadas, sofrendo todas as agruras de uma calamidade que poderia ser evitada.
Como não é a primeira vez que o Nordeste ouve promessas, competiria aos nossos governadores algo mais que aplaudir iniciativas dessa ordem. É claro que qualquer ajuda numa hora dessas é bem vinda, mas não devemos aceitá-la de forma acovardada e sim, reproduzindo a indignação de um povo cuja história é feita de tragédias naturais anunciadas.
É esse povo que há muito clama por soluções definitivas para que possa fugir das esmolas e migalhas que costumeiramente são enviadas, pois essas medidas paliativas só conseguem humilhar e ferir a dignidade dessa parte da população que vive a mercê da própria sorte.
Por: Danizete Siqueira de Lima.
Parabéns, vc retratou toda verdade.