O místico Angelus Silesius era um teólogo diferente. Falava sobre o sagrado por meio de poesia. Num dos seus momentos de inspiração e exaltação da alma ele disse: “Temos dois olhos. Com um contemplamos as coisas do tempo, efêmeras, que desaparecem. Com o outro contemplamos as coisas da alma, eternas, que permanecem”.
Ele quis dizer que com o primeiro olho a gente ver o mundo de fora e com o segundo o mundo onde o que foi vivido, o mundo da eternidade, não morre, apenas adormece, à espera. Isso me fez lembrar José de Sá Maranhão, o Zezito Sá, pai de José de Sá Maranhão Júnior, o Júnior Finfa.
Nunca vi pai e filho parecerem tantos, terem os mesmos olhos, os mesmos graus de Perfeccionismos. O andar, o tamanho físico, a fala e até a caligrafia são idênticas. Posso afirmar isso, sem medo de errar, porque trabalhei com o pai e também com o filho.
O pai era um homem de personalidade muito forte, igual ao filho. E, como o filho, tinha também um traço semelhante: o de gostar de notícias. De dar à notícia, de fazer a notícia. Fui telegrafista – e daí talvez tenha surgido o meu despertar para o Jornalismo – nos Correios e Telégrafos em Afogados da Ingazeira com o meu pai e o pai de Júnior Finfa.
Certa vez, Guimarães Rosa fez uma estranha confissão. Disse que gostaria de ser um crocodilo, porque amava os grandes rios, profundos como a alma dos homens. Segundo ele, os crocodilos são muito vivazes e claros na superfície, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como os sofrimentos dos homens.
As confissões de Zezito Sá, que ouvi entre um telegrama e outro que recebia e caprichava na letra para enviar ao remetente, eram confissões de alma de repórter, como a alma do filho.
Finfa, embora nunca tenha posto o pé numa faculdade de Jornalismo, encarna a alma de repórter, porque já fazia a notícia há muito tempo. Trabalhando comigo, como motorista bom que é, já dava as notícias logo cedo.
E, nas coberturas em que me acompanhou logo depois como fotógrafo, também no blog, completava a notícia com o olho de repórter da sua lente. Mas diferente de Angelus, os dois olhos de Finfa não contemplam coisas diferentes.
Eles só enxergam a notícia. Por isso, está entrando no mundo da blogosfera para exercitar a sua verdadeira vocação, que herdou do pai, que a esta altura, na eternidade, deve estar muito feliz, sentindo-se realizado com a chama brilhante do filho que tanto amou em vida.
O pescador se encanta com a beleza do mar. Finfa se encanta com a notícia. Para ganhar a vida no mar, o pescador enfrenta a chuva e o vento. Na ânsia de arrancar uma manchete, Finfa desafia a vida corajosamente. Com o corpo encharcado e frio, o pescador só vê o mar, as redes e o pescado.
Finfa é também um pescador aventureiro, o pescador que traz as notícias de hoje e que amanhã serão outras.
Mas, nunca peixes. Porque ele só sabe pescar notícias.
Sucesso, Finfa!
Magno Martins – Jornalista