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“Lutemos como sempre lutaram as mulheres, com muita força”, diz Dilma Rousseff

O I Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra recebeu, na noite deste sábado (7), um Ato Político e Cultural com a presença de mais de 40 organizações, partidos e movimentos sociais nacionais e internacionais. Na plateia do Centro de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília, mais de 3.500 mulheres vindas de assentamentos e acampamentos do MST, de 24 estados brasileiros. No palco, a ex-presidenta da república Dilma Rousseff, a presidenta do PT Gleisi Hoffmann, a jurista Deborah Duprat, a integrante do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) Romi Bencke, e mais uma dezena de convidadas.

Dilma Rousseff classificou o atual momento da história do Brasil com muito difícil, com uma “escalada autoritária neofascista”. A ex-presidenta também frisou a preocupação com aspecto neoliberal do atual governo, que retira direitos, ataca as nossa grandes empresas públicas e soberania nacional, criminaliza os movimentos sociais, entrega a Amazônia e avança na exploração de seus recursos minerais.

“Nós temos que ter clareza que o neoliberalismo e o neofascismo são irmãos siameses. Esse é o caráter mais perverso desse autoritarismo que afeta a todos nós”, garantiu. Dilma enfatizou a necessidade de unidade para o enfrentamento desta conjuntura. “Se não nos unirmos e não nos fortalecemos, nós não conseguiremos conter o avanço do fascismo”, afirmou.

Para Dilma, o caráter fascista do governo Bolsonaro coloca o Brasil sem posição de subordinação os interesses de Donald Trump. “Nós não podemos deixar que o nosso país tenha esse destino de ser submisso ao imperialismo, somos muito grandes para sermos um quintal de alguém. Somos muitos grande e com povo muito forte para sermos submissos”.

A luta das ruas é o caminho necessário para a resistência, defendeu. “Nós sempre temos que começar tudo de novo, não há nenhum desespero em começar tudo de novo […] Vamos perceber que só temos uma saída é juntos combatermos o monstro do neofascismo e neoliberalismo. Nós somos mulheres, lutemos como sempre lutaram as mulheres, com muita força”, finalizou a ex-presidente.

Maria de Jesus, integrante da direção nacional do MST, levantou aplausos do público ao reafirmar a posição de resistência das mulheres Sem Terra: “Uma das primeiras coisas que aprendemos no movimento é não baixar a cabeça, nem para o machismo, nem para o patriarcado, nem para o capital. Nós, mulheres, vamos resistir em todos os territórios na defesa e construção da unidade da classe trabalhadora, do campo e da cidade”. Para a dirigente, a unidade é a saída para todos os retrocessos pelo qual o país passa.

A presidenta do PT e deputada federal pelo Paraná Gleisi Hoffmann enfatizou o agradecimento ao MST pela participação na luta pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “Vocês não faltaram em nenhum momento. Foram firmes e fortes”.

A petista reafirmou a sua posição na luta pela igualdade. “A luta feminista não é uma luta só pelas mulheres, mas por todos aqueles que são discriminados na sociedade. As feministas lutam pela liberdade daquelas que não têm liberdade”. Para Hoffmann, o Brasil atravessa uma situação perversa: “Nós nunca precisamos tanto dos movimentos sociais e dos partidos de esquerda”, afirmou.

“Eu cheguei toda de preto triste e estou saindo colorida”, brincou Deborah Duprat, procuradora federal dos direitos do cidadão. “Eu tenho certeza que a revolução virá das mãos das mulheres. Agora, que mulheres somos? Somos várias, somos diversas. Quando vai ser essa revolução eu não sei, eu sei que a gente está com raiva e a gente não se esconde atrás de um celular mandando mensagens de ódio, a gente se reúne e marcha”, disparou a jurista.

Resistência também é fé

“Enxergo em vocês Dandara e Marielle. Também enxergo no rosto de vocês a presença de Oxum, Iansã, Iemanjá e de nossas mães ancestrais”, disse Makota Celinha, coordenadora geral do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (CENARAB).

Para a religiosa, o Brasil atravessa um período de extrema violência. “Como milhões de mães negras nesse país, eu não durmo enquanto meu filho não chega […]. Vida preta, para fascista, não vale nada. Nós, mulheres pretas, somos cotidianamente ceifadas sem dó”.

A resposta a essa conjuntura de opressão, para Makota Celinha, é a resistência e o enfrentamento: “Como vocês, eu também sou de luta, eu também sou de guerra […]. Como vocês, mulheres Sem Terra, nós carregamos no nosso sobrenome a resistência. Não são os fascistas que vão nos matar. Somos tinhosas e juntas vamos fazer a revolução neste país. Vocês, mulheres Sem terra, eu, mulher negra, todas nós vamos continuar a construção de um futuro de possibilidade de uma vida plena, cidadã e digna para todos e todas”, finalizou.

A pastora luterana Romi Bencke, secretária geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), avalia que o Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra vai além das mulheres do campo. É um encontro que reúne toda a caminhada das mulheres que lutam e lutaram por direitos. “Esse é o encontro da insurreição das mulheres em um contexto em que o Brasil assume, sem vergonha na cara, todo o seu ódio às mulheres, e que nós temos um presidente da República que não tem nenhuma vergonha de assumir a sua misoginia. Esse encontro diz que nós mulheres não aceitamos o patriarcado fundamentalista que rouba a fé cristã para justificar a opressão e a exclusão das mulheres”.

A religiosa convocou as mulheres a se mobilizarem neste Dia Internacional das Mulheres. “Nós não vamos deixar roubar nossos direitos, não vamos deixar roubar nossos territórios. Mulheres em marcha no 8 de março, somos uma nas outras e seguiremos assim, e as insurreições virão cada vez mais forte”.


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