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Viva a Coruja e viva Afogados da Ingazeira

Por Gustavo Krause/Ex-ministro e ex-governador

Eu sabia que o Sertão do Pajeú e Afogados da Ingazeira são incubadoras de poetas. Lá, até as pedras rimam. Lá, o artesanato das palavras compõe o que há de mais belo e espontâneo dos nossos repentistas.

Viver é sinônimo de poetar e poetar é olhar a vida da forma como definia o grande Manoel de Barros: “O poeta transvê”.

Dei de cara, por ocasião das andanças políticas, Ex-ministro e ex-governadorcom o encontro de uma lua cheia de graça e a cantoria que abrandava o calor deixado no dia que se escondia com o cair da noite. O que eu não sabia que se aplicava ao time de Afogados da Ingazeira, A CORUJA, o que certa vez Pasolini disse do futebol brasileiro: “No Brasil o futebol é poesia, na Europa é prosa”.

Não sei se hoje ele repetiria a máxima. Não importa. “No futebol, – Nelson Rodrigues sentenciou, do alto de sua genialidade – o pior cego é o que só enxerga a bola. Por trás da mais sórdida pelada, existe um drama Shakespeariano”.

De fato, o futebol é o maior espetáculo da Terra. E a explicação é simples: somente o futebol permite emoções improváveis com o pobre vencer o rico, o mais fraco surrar o mais forte, o baixinho pintar e bordar diante do galalau.

Tudo isto aconteceu na inesquecível noite de uma quarta-feira de cinzas (26/02/20) quando o Brasil profundo, sertão brabo, onde se espera sempre que o mandacaru florido anuncie a chuva, o famoso Galo das Alterosas, o Atlético Mineiro, foi vencido pela força de que falava Euclides da Cunha e pelo talento de um negrinho com nome nobre e pés de anjo, Phillip, e mais uma dúzia de grandes guerreiros.

Sei que o futebol é um esporte em que as vitórias são coletivas, mas o que faz a diferença é o inesperado, o improviso, o drible, a ginga, enfim o toque refinado do Craque.

Todos venceram. Pernambuco venceu.

E por que destaquei Phillip? Porque nasceu nas equipes de base do Náutico. Eu vi. Sempre foi diferente. Abusado. Joga pra cima do adversário. Pedro Manta sabe disso. E aproveitou bem as potencialidades do “boleiro”.

Muita alegria. Com um homem a menos. Porém, com milhares de corações submetidos a um eletrocardiograma coletivo, o gol decisivo mostrou duas coisas: saúde coronariana em ordem e que o grito de gol é a síntese de uma felicidade que somente a poesia do futebol é capaz de escrever.

 


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