Por Carlos Silvan
Este breve texto é uma possibilidade de apontar algumas reflexões acerca do tema paternidade, e também sobre as possibilidades, desafios e consequências do lugar dos pais nas vidas dos filhos e das famílias, incluindo ponto de vista acerca de desarranjos no campo emocional e material das vidas das pessoas a partir do pensamento de Bert Hellinger, sistematizador da Constelação Familiar Sistêmica.
A existência do Pai está “é uma lei sistêmica que garante a ordem e o equilíbrio e uma inteligência dentro das famílias”. Segundo os estudos do pensador alemão Bert Hellinger, o pai da Constelação Familiar Sistêmica – técnica terapêutica, de educação emocional, de cura emocional e solução de conflitos nos relacionamentos, essa lei invisível, mas que encontra – se em todas civilizações humanas, e com ainda mais potência em todas as famílias, aponta que todos os seus membros têm o direito de pertencer e possuem um lugar que só cabe a eles ocuparem no sistema, e ninguém nem nada pode mudar essa condição.
É comum ouvirmos dizer que pai é aquele que cria. Podemos até concordar que esse homem que cria é importante, mas seguramente ele não é o pai. E isso pode ser muito perigoso para todos os que virão depois. Na Constelação Familiar aprendemos que nessa “crença está embutida uma perigosa exclusão do pai”. Podemos até ter dificuldade de aceitar essa premissa, mas podemos refletir e perguntar: O que torna um homem pai? E qual a condição para que um homem se torne pai concretamente? Ao olhar de Hellinger, do ponto de vista da existência, basta que apenas conceba uma vida. Essa é a condição, o lugar e a função de um pai no sistema familiar, portanto, ninguém pode substituir ou lhe negar. Queiramos ou não.
Podemos perceber à luz do pensamento de Bert Helling que “quando excluímos alguém de nossa alma e consciência, seja porque o tememos, o condenamos ou o esquecemos, há terríveis consequências”, o que pode ser repetir em todas ou quase todas as futuras gerações (descendentes).
Podendo, inclusive, um neto, imitar, por identificação inconsciente, um avô excluído por ter tido um filho extraconjugal ou algo semelhante. Assim, muitas gerações de uma família pode passar a viver, sentir-se e fracassar como seu avô, sem estar consciente dessa conexão ou dessa inteligência emocional ancestral.
É importante aprender a aceitar seu pai, e isso pode representar possibilidades de ter uma vida consciente, plena e harmoniosa, construindo assim, caminho para a felicidade, afastando assim, as intemperes da vida dos homens descendentes (isso serve também para as mulheres).
Como nos diz a teoria da Constelação Familiar Sistêmica, “os filhos são os seus pais, uma mistura perfeitamente equilibrada de 50% do DNA do pai e 50% do DNA da mãe”. Porque ao dar a vida aos filhos, os pais nada podem acrescentar e nada podem excluir dela. Da mesma forma, os filhos, quando tomam a vida dos pais, também não podem acrescentar-lhe nada, nem recusar algo dela”. E isso se expressa na constituição genética e na inteligência emocional e afetiva dos descentes, e segue geração à geração.
É importante honrar o pai, mesmo que a experiência da relação tenha sido, ou seja, exigente e complexa. É possível que seja muito desafiador que os filhos tenham êxito na vida se não tomou plenamente o pai”, se o rejeita ou despreza. Para Bert Hellinger “a pessoa pode até ter sucesso por um tempo, porque usa a raiva para agir, mas isso não se sustenta no longo prazo”, e isso pode trazer prejuízos para o projeto de vida e o projeto de felicidade (seu e dos seus descentes).
Na visão sistêmica das Constelações Familiares, tomar pai e mãe, ou seja, honrá-los e aceitá-los como são e como puderam ser, é a condição para se tomar a vida que veio deles (uma dádiva, o maior presente). Esse ato de tomar é um ato de humildade e de respeito. Representa um sim à vida e ao destino, e isso implica não julgar e nem maldizer porque ninguém pode em consciência saudável julgar ninguém, muito menos o pai e a mãe.
Segundo Bert Hellinger “ quem rejeita o pai, por exemplo, rejeita a si mesmo, pode sentir um grande vazio, sem realização, sem propósito de vida e sem projeto de felicidade, criando assim, muitos empecilhos para a felicidade e vida plena.
Pode – se pensar que o filho (ou a filha) que não honra o Pai (tomar o Pai), pode ter dificuldades na construção da sua própria existência, na construção da sua identidade e subjetividade (e presença no mundo), criando inclusive, problemas no campo profissional ou no relacionamentos, bem como, na figura de autoridade que precise exercitar, mas também com a própria expressão no mundo e na vida.
Parece – me que homens (e mulheres) que não honram (ou tendem a julgar e maldizer o pai), e seguem apenas julgando, podem construir dentro de si, um vazio pouco consciente, mas que impede a sua paz interior , a sua felicidade e a sua prosperidade.
Quando o filho (ou filha), busca e consegue finalmente, honrar o pai e ficar em paz consigo mesmo, pode ser que sinta – se em paz e com integralidade (inteiro, todo, pleno), construindo com isso, um poder pessoa, uma segurança, uma força e um entusiasmo para seguir vivendo plenamente.
Então, recomenda – se que os filhos possam fazer as pazes com seus pais (mesmo que os pais estejam em outro plano), e busquem viver livre das armaras e amarguras, que em nada ajuda na construção da felicidade.
Então, se possível, agradeça e celebre a existência do seu pai, mesmo que a sua experiência tenha sido exigente.
Longe de ser uma verdade, e sim, um conjunto de reflexões sobre o lugar do pai, um ser como tantos outros em construção, buscando exercitar a sua humanidade, com virtudes e não virtudes.
Carlos Silvan, Professor, Pesquisador, Terapeuta Sistêmico e Integrativo e Facilitador de Constelação Familiar Sistêmica. É Terapeuta do Instituto Ethos Cogitare.
Maravilhoso artigo acerca da paternidade!