A crônica que não queríamos escrever
Iniciamos com a confissão da nossa dificuldade na produção da matéria dessa semana. Temas existem de sobra; o que nos falta é a concentração necessária para abordarmos um assunto tão complexo como a morte. Ainda mais, quando se trata de uma pessoa por quem nutríamos um grande afeto.
Mais do que chocados com a tragédia que abalou o mundo nos últimos dias, haja visto o desastre aéreo que envolveu toda a delegação da Chapecoense (SC), ali incluídos comissão técnica, repórteres, amigos e parentes dos jogadores que disputariam uma partida importantíssima na Colômbia, a comoção ficou ainda maior com a perda do nosso cunhado, amigo e competente profissional que atuou por quase três décadas na gloriosa PM – Policia Militar do Estado de Pernambuco. Sempre em Afogados da Ingazeira, com breve passagem pela cidade de Floresta (PE), o sargento Sandro ou (Sandro de seu Amauri), como era popularmente conhecido, deixou o seu exemplo de zelo pela profissão, dedicação para com o serviço público e muita amizade entre os colegas com quem conviveu ao longo de sua carreira.
Quem o conheceu sabe como era visível a simpatia dos colegas com quem teve o prazer de atuar na difícil tarefa de manter a ordem a todo e qualquer custo, desde que não precisasse humilhar ou denegrir a figura de quem quer que seja. Sandro Roberto Pereira Lima ou simplesmente Sandro, abraçou a profissão do pai, Sr. Amauri, falecido em abril deste ano. Além dos conselhos de pai absorveu, também, os ensinamentos básicos para se tornar um militar atuante sem deixar que os laços de parentesco ou amizade interferissem na ordem e na prática dos bons costumes. Lembramos quando, em datas festivas como o tradicional ARERÊ, nossos filhos chegavam em casa e, diziam: pai nós vimos Sandro mais de uma vez e ele falou: brinquem com cuidado, não se envolvam em barulho e se virem qualquer coisa estranha corram pra perto da gente. Fiquem atentos, tem muita gente de fora e o pessoal bebe pra caramba. Essa atitude não era porque meus filhos eram seus sobrinhos pois, outros pais amigos do policial Sandro, me diziam a mesma coisa.
A verdade que mais dói é que a sua morte deixou-nos transtornados. Sua “via crucis”, que durou próximo de 50 (cinquenta) dias, mostrou quão grande era a sua vontade de vencer: entrou no Hospital da Polícia Militar em Recife pelas mãos dos médicos e saiu nos braços da Funerária, naquele fatídico 1º de dezembro (última quinta feira). Apesar do tratamento doloroso e que exigia muita paciência não reclamava do sofrimento. Os médicos diziam: ele vai suportar, Deus é maior. A esposa Neide, companheira incansável, batalhou até ver consumidas todas as suas forças num ir e vir pelos corredores da UTI que pareciam intermináveis; os profissionais da saúde, médicos, enfermeiros e toda equipe técnica do hospital não mediram esforços, mas o mal conseguiu ser maior que todos juntos.
Sem qualquer chance de defesa, com menos de 50 (cinquenta) anos de idade, foi arrebatado da vida o fiel companheiro de Neide, deixando duas filhas, sogra, cunhados (as), genro, irmãos e um batalhão de amigos que conquistou em toda trajetória militar. Foi embora um grande amigo, um grande chefe de família, um bom pai e um profissional acima da média, que não teve tempo sequer de gozar a própria aposentadoria.
No funeral deu pra percebermos o quanto ele era querido por seus pares. Após receber todas as honras militares em um clima de muita comoção, às 17:30h do dia 02/12/2016, no cemitério Parque da Saudade, o sargento deixava a vida terrena com a satisfação do dever cumprido. Ontem (06/12), participamos da missa de 7º dia e, dentre os presentes, a sensação que tínhamos era de que tudo não passava de um pesadelo. Mas, infelizmente, tudo foi real.
Fica com Deus, meu irmão, descansa na Glória do Pai.
Danizete Siqueira de Lima – Afogados da Ingazeira – dezembro de 2016.