A falta de vacina antirrábica nas unidades médicas do país expõe um risco iminente de graves danos à saúde pública. Em Pernambuco, a situação não está diferente. O servidor público federal Valter Leandro, de 25 anos, foi mordido por um gato de rua na manhã dessa quinta, no Ibura, na Zona Sul do Recife. Preocupado, ele procurou a Policlínica Lessa de Andrade, no bairro da Madalena, tomou uma antitetânica, mas não encontrou a vacina, nem o soro antirrábico. Foi à Policlínica e Maternidade Professor Barros Lima, em Casa Amarela, e também não foi atendido. Com pressa, já que é recomendado que a primeira vacina seja tomada em até 24 horas depois da mordida, ele entrou em contato com a Secretaria de Saúde, onde recebeu uma resposta que o deixou revoltado.
“A Secretaria confirmou que a vacina está em falta. E ainda disse que não havia previsão de chegada. A solução deles foi absurda: disseram que eu devia procurar o gato e observá-lo durante dez dias para ver se ele ia apresentar algum sintoma. Isso é uma palhaçada. Eu só quero ser medicado”, denunciou Valter Andrade, que chegou a procurar, sem sucesso, a vacina na rede privada. A raiva é uma doença 100% letal, com apenas um punhado de casos de sobrevivência.
De acordo com a Secretaria de Saúde do Recife, a ausência da vacina é, na verdade, um problema do Ministério da Saúde. Através da assessoria de imprensa, o órgão confirmou que o soro está escasso devido ao não fornecimento direto do laboratório, que repassa para o estado que, por sua vez, repassa aos municípios. As doses que chegam são direcionadas para os casos mais graves e para mordidas de animais silvestres, como morcegos. Embora não haja previsão para o restabelecimento da vacina, a Saúde do Recife pede para que a população continue procurando os postos de saúde para receber as orientações adequadas e fazer a notificação dos casos.
Para quem precisa, no entanto, a justificativa não é suficiente. “Agora, para mim, só resta o soro, que também está em falta. No Lessa de Andrade pegaram meus contatos e disseram que assim que chegasse iriam me avisar. Em plena época de campanha eleitoral, quando vemos os candidatos dizer que priorizam a saúde, o estado não tem vacina contra essa doença. Deus os livre, repito, Deus os livre, mas se fosse com um parente de algum político, queria ver o que aconteceria”, questiona Valter.(Diário de Pernambuco)